Desde o segundo semestre de 2015, o Curumim se lançou ao trabalho de pesquisa sobre a adolescência, tema de todos os Núcleos de Psicanálise com Crianças da NR Cereda, auxiliado pelo texto de Jacques-Alain Miller que encerra a III Jornada do Instituto da Criança, cujo título é: “Em direção à adolescência”.

Nesse texto Miller retoma as bases desde Freud, sobre a puberdade, o que é ainda vigente, indo até o novo recolhido entre vários autores que nos apontam para os desafios que temos que enfrentar, pois os novos adolescentes são frutos desses desafios.

As bases

A adolescência é uma construção feita de significantes e de real; o real em jogo nela se articula com o apoio dos semblantes. O semblante compreende imaginário e simbólico.

Momentos cruciais:

  • Na puberdade, que é a saída da infância, ocorre o encontro com um objeto de desejo novo: o corpo do Outro.
  • É uma escansão sexual, ou seja, é o tempo de compreender o que foi antecipado na infância, “as predisposições, reconhecíveis desde a infância, à posição feminina ou à masculina”.
  • O ponto de basta e a conclusão no momento em que o desejo se reconfigura pelos ideais. É quando algo de fora, do adulto, se introduz no jovem. Lacan fala da “imisção ou imiscuição” do adulto no adolescente.

O novo

  • A procrastinação: diante dos muitos objetos possíveis através do mundo virtual, o sujeito adia ao infinito o encontro com o impossível.
  • O auto-erotismo no jogo com o saber, sem passar por estratégias com o desejo do Outro: como o conhecimento é acessível através da internet, não há aposta com a bolsa ou a vida, uma vez que a vida está no bolso.
  • Realidade imoral: quando o adolescente precisa largar a mão dos pais para se tornar adulto, muitas vezes não encontra um Outro e, se o encontra, este tem a face tirânica, degradada ou nociva como o Outro do complô.
  • Há um déficit de respeito, os adolescentes dizem: “quero ser respeitado”. Mas quem é o Outro que o respeitaria? Retorna o que Miller chama de demanda vazia: “Como seria bom ser respeitado por alguém que respeitássemos”.
  • E, finalmente, porque as mutações na ordem simbólica são tão agudas, o pai deixou um vazio, a tradição religiosa ou a dos chamados “bons costumes” se perderam, é que sobrou espaço para uma tradição muito demarcada como a islâmica. Sem pai, sem perdão, só vingar, só vencer.

Mas não esqueçamos das três palavras necessárias que nos aponta Lacan em “A Juventude de Gide”: a palavra que interdita, a palavra que protege e a que humaniza (e autoriza) o gozo, o desejo, para enlaçá-los com o amor.

Cleide Maschietto e Isabel Bogéa Borges