Sobre o Colóquio da EBP-Rio e ICP-RJ:
Despertar do adolescente: do gozo ao desejo

 Por: Thereza De Felice (Turma 2015)

Levantarei nesse breve comentário sobre o Colóquio da EBP-Rio e ICP-RJ, que aconteceu nos últimos dias 23 e 24 de setembro, algumas questões que se colocaram nos trabalhos apresentados e pareceram ter um destino interessante na conferência final de Hélène Deltombe. O fio condutor do Colóquio foi a pergunta: como se vai do gozo ao desejo na adolescência?

O par “violência e delicadeza” na clínica abriu uma questão que se reiterou ao longo do dia, sobre o que marcaria a delicadeza na clínica com adolescentes. O tempo pareceu ser um indicador importante. A escuta do tempo do sujeito, que não é o tempo eterno, mas o tempo do momento, do corte, já é a orientação clínica que tomamos com Lacan. Na adolescência, contudo, esse tempo se mostra mais radicalmente fugaz e sutil em suas aberturas, constantemente obturado pelo Outro, exigindo do analista uma escuta especialmente atenta a essas sutilezas, para poder fazer vacilarem as defesas e abrir uma brecha onde apareça algo da singularidade.

E o que é isso que aparece na adolescência e causa tantas questões e estranhamento, para o adolescente e para aqueles que o rodeiam? O que é isso que exige uma delicadeza a mais? A ideia geral que pareceu se sustentar ao longo do colóquio foi de que o adolescente dá testemunho do desencontro sexual. O adolescente faz sintoma a partir do despertar do gozo opaco que ocorre nesse momento, e isso denuncia sintomaticamente no Outro o impossível de qualquer complementariedade existir.

Assim, é o real que se coloca em jogo para o adolescente, o real da puberdade, segundo Deltombe – momento da diferenciação sexual, escolha de objeto, reconfiguração do narcisismo e desencadeamento do imaginário e simbólico. O adolescente está frente às novas demandas do Outro, para as quais as soluções imaginárias infantis não se sustentam mais. É preciso que ele invente um modo próprio de fazer laço social, com seus próprios recursos – por exemplo, às identificações àqueles que atravessam o mesmo momento. Em suma, o encontro com o real convoca o adolescente a um novo processo de simbolização.

Trata-se, com isso, de pensarmos o que nós, analistas, podemos fazer diante desse processo. A aposta de Deltombe é na oferta do recurso da fala. Uma análise deve se interessar pelo nó que se faz – ou se fez – na adolescência, “enfrentar o desconhecido e criar o inédito”. Ela propõe que, com o declínio paterno, a função paterna na passagem da relação imaginária mãe-criança ao consentimento da castração pode ser substituída pela função significante; “a linguagem no lugar do pai”, ela nos diz.

É a fala enquanto veículo significante que tem o peso da separação e pode operar no real que se coloca na adolescência. Tomar os sintomas como um chamado a que se escute um sofrimento, escuta essa que convoca a uma localização no desejo do Outro, é a alternativa que a análise pode oferecer, por exemplo, às classificações do sintoma pela faixa etária. Deltombe coloca o dispositivo analítico como aquilo que pode permitir que os significantes apareçam em uma lógica que diz respeito ao gozo. Ela articula o desejo do analista a um interesse pelo gozo, na via da fala.

Do gozo ao desejo, da escuta da linguagem em articulação com a posição de gozo com vistas ao objeto que orienta o desejo, essa é a direção do analista. Soma-se a isso, na adolescência, fazer falar um sintoma que se produz no encontro com o impossível da relação e pede uma reconfiguração simbólica importante, a invenção de recursos próprios e a distinção primordial de uma singularidade.