Comentários de Mayara Alvarenga Ferra (Turma 2016) sobre o trabalho “Isso ainda é psicanálise?”

Pude participar somente durante o período da manhã da Jornada de Encerramento da turma de 2014. Gostei muito dos trabalhos e dos comentários dos debatedores das mesas. Em específico o trabalho da Andrea V. Marcolan, “Isso ainda é psicanálise? – Sobre a formação do analista e o trabalho em instituição”, justamente pelo comentário do debatedor Rodrigo Lyra – a partir da citação de Freud “A atividade psicanalítica é árdua e exigente; não pode ser manejada como um par de óculos que se põe para ler e se tira para sair a caminhar” – de que a psicanálise não é uma ferramenta, e sim um discurso, o qual o analista é tomado pela psicanálise.

Essa questão me tocou, pois é o que venho encontrando na minha pós-graduação em psicologia hospitalar em que ouço muito o discurso de que a psicanálise é uma técnica que se aplica em um determinado paciente, e que em outro se utilizaria outra abordagem, pois a psicanálise não daria conta. Como se fosse algo que você usa só quando acha necessário, como um par de óculos. Assim como também ouço falar que tenho que atuar como psicóloga hospitalar e que essa área nada tem a ver com a psicanálise, como se desse para destituir, separar as duas coisas. Assim como atuar como psicanalista seria somente no consultório, que na instituição, principalmente no hospital, não daria, pois é necessário uma “intervenção breve”.

Estar orientado pela psicanálise é estar orientado pela ética do desejo, já como dizia Lacan no O Seminário, livro 7. É estar tomado pelo seu discurso, do sujeito do inconsciente, sujeito dividido, pela escuta do inconsciente, pela associação livre. A psicanálise não é uma técnica e sim, uma ética. E é a partir dessa ética que se pode “fazer” psicanálise em qualquer espaço, instituição, não sendo possível se desvestir da mesma.