Boa tarde a todos.
É com alegria que faço nesse momento a abertura da Conversação do Instituto de Clínica Psicanalítica do RJ e, exercendo minha função de diretora geral, gostaria de dizer algumas palavras sobre como chegamos até aqui.
Antes de tudo, gostaria de agradecer aos 3 diretores que me antecederam; Romildo, Marcos André e Rosário e parabenizá-los por suas respectivas coordenações que, com firmeza e delicadeza, colocando seu desejo a trabalho, fizeram com que a conversação do ICP, que abre as jornadas da seção Rio, tomasse seu lugar, fazendo desse evento um marco importante da produção dos núcleos de pesquisa. Agradeço às coordenadoras da jornada Angela Batista e Andrea Reis, Maria Silvia Hanna e à Comissão Científica. Agradeço também a Angela Bernardes e a toda a diretoria da seção Rio e ainda à atual diretoria do ICP, composta por Gloria Maron, Cristina Duba, Tatiane Grova e Ronaldo Fabião. Obrigada aos coordenadores e participantes dos Núcleos de Pesquisa e a Araceli Fuentes, nossa convidada, por sua disponibilidade em participar desta Conversação.
O ambiente de pesquisa, centrado na clínica, é o que define a pesquisa em psicanálise e o que se desenrola nos núcleos. A clínica psicanalítica, definida por Lacan como o impossível de suportar, comporta em sua prática um real, que vai produzir angústia, reenviando o sujeito às suas questões e à sua formação.
Essa atividade de pesquisa clínica pretende demonstrar, através da apresentação e discussão de casos clínicos, como extrair da experiência do inconsciente e do trabalho de cada paciente, um saber, onde o real aparece disperso, sem sentido. Dito de outra forma, é um modo de trabalho onde se articulam o saber dos conceitos e o que pode ser depositado e apreendido na experiência. Essa pesquisa se sustenta como uma aposta, pois o real é inapreensível em termos de sentido, e a linguagem é insuficiente para conceituá-lo. Os casos clínicos que são discutidos nos Núcleos chegam de questões que atravessam vários dispositivos tais como o da saúde mental, da justiça, da infância, das toxicomanias e da violência, entre outros. Algumas das questões que norteiam a pesquisa dizem respeito ao modo como se dá o acolhimento do sujeito em sofrimento psíquico, na radical e muitas vezes mortífera relação com a linguagem e o corpo e ainda onde conseguir um rearranjo, como levar o sujeito a encontrar uma ancoragem sintomática, estando nos mais diversos dispositivos clínicos, levando em conta as soluções singulares encontradas por cada um. Muitas vezes são sinais mínimos, sutis, outros mais barulhentos que podem ser lidos à luz da psicanálise e que também nos ensinam sobre o manejo clínico da subjetividade da nossa época.
Para que a psicanálise não perca sua radicalidade é importante que o trabalho no Núcleo não aperte o nó entre saber e sentido. É preciso que essa articulação se desfaleça e que “o melhor da psicanálise se mantenha”, como nos orienta Lacan no Seminário 18. Isso quer dizer um saber que se articula, mas que contém nele mesmo um ponto ilegível. Esse ponto inapreensível é o que define o que é a psicanálise, que não é simples falta de saber, mas um osso, um caroço.
Nos Núcleos estão presentes analistas, membros da Escola, AMEs e também analistas praticantes e alunos, pessoas com percursos diversos, em momentos muito diferentes em sua relação com a Escola e com a sua formação, mas onde todos, com sua particularidade, têm um lugar. Lugar para dar de si, usando os textos e conceitos, para seguir a pesquisa clínica a partir dele, sem apagar o impossível de suportar. Que as formulações teóricas, surgidas a partir de um caso clínico, coloquem o sujeito confrontado com o seu ato, não para horrorizá-lo, mas pelo contrário, para que ele possa articulá-lo no a posteriori, num dos modos de fazer com o real da clínica. É numa análise que o sujeito se compromete e se responsabiliza por seu ato, mas o trabalho no Núcleo pode criar condições, para que seus participantes possam, do ponto em que estão, compartilhar seus impasses e suas articulações, colocando em andamento um modo de tratar o real.
A dimensão clínica da prática da psicanálise tem como referência de pesquisa a extração de um saber a partir, não da generalização, mas do caso a caso. Tomar cada caso como único é o que possibilita ao analista sustentar a idéia da construção do caso clínico como método de pesquisa. Este método é próprio da psicanálise e vai produzir um saber particular.
Essa dimensão, a da orientação teórica feita na articulação clínica, é um ponto político importante no que diz respeito ao trabalho realizado nos núcleos. Uma das funções dos coordenadores dos Núcleos deve ser a de garantir e sustentar a orientação lacaniana do Campo Freudiano. Digo isto porque para que a produção de um saber, a partir da prática clínica, não se perca da radicalidade da teoria psicanalítica, ela não poderá estar dissociada do lugar e dos princípios onde é feita essa construção.
Ao acolher este trabalho realizado no Núcleo, ocorre uma autorização das elaborações de saber ali ocorridas, ao mesmo tempo em que fica circunscrita à orientação lacaniana, minimizando os efeitos de dissociação das questões clínicas, epistêmicas e políticas do Campo Freudiano. Vamos ter a oportunidade de verificar, ao final dessa conversação, se essa aposta se confirma.
Desejo a todos então um excelente trabalho!
Obrigada.
Paula Borsoi