Por Leonardo Lacerda – Turma 2017
A palavra arte é a tradução latina para a palavra techné. Τεχνη em grego, ou simplesmente techné, significava para os gregos fazer aparecer, ποιησις, poíesis, o que faz com que algo passe do não ser para o ser, ou seja, remete à noção de desvelamento, revelação, produção da “verdade”, e dá origem a palavra poesia. Assim, como não pensar na dimensão poética do trabalho do analista, tanto na sua atuação prática como na teórica? O sintagma usual “práxis lacaniana”, nesse sentido, remeteria a um modo de agir do analista que aponta para uma ação simplificada, que pouco tem a ver com o que nos foi apresentado nesses dois dias da XXV Jornada intitulada “Loucuras e amores na psicanálise”. O que vimos, nesses dois dias de intensos trabalhos, foi a elevação de dois significantes tão banais, cimentados a uma semântica pelo seu uso ordinário, a uma outra condição, um outro patamar. Como do mármore bruto Michelangelo produziu Davi, também dos termos “amor” e “loucura” pode-se extrair, a partir do trabalho poético dos conferentes e dos audientes e das ferramentas teóricas que a psicanálise de orientação lacaniana nos fornece, a não-toda potência desses significantes. Portanto, o trabalho sobre esses dois termos, por tudo que produziu nesses dois dias de jornada, não pode ser pensado senão como um trabalho artístico, poético, no seu sentido mais originário. E se nos obrigamos a escrever aqui o que fica para nós, do acontecimento que foi a Jornada, a resposta não poderia ser diferente da seguinte: a psicanálise é, sem dúvida, uma potência onde não se vislumbra seu esgotamento e a relevância desse dispositivo para nós, habitados de uma forma ou de outra pela linguagem, lançados no incontornável mal-estar produzido pela tensão entre a loucura e o amor, afirma-se na sua capacidade desmedida de dar respostas (e, sim, com estatuto poético) e amparo, aos sofrimentos que nos acometem nesses tempos tão difíceis.