No sábado, 19 de setembro de 2015, houve a Jornada de encerramento da turma do ICP 2012. Foram apresentados seis trabalhos em três diferentes mesas, contando com os comentários de alguns professores do ICP.
De início, Samantha Lemos procurou circunscrever o lugar do psicanalista na escola, trazendo um caso para falar dos impasses e desafios desse trabalho. Em seguida, Isabel Bogéa também apresentou um caso clínico em seu trabalho. Jeanne Marie, enquanto debatedora da mesa, destacou no trabalho de Samantha, o trabalho do analista na cidade, sendo este uma presentificação da psicanálise no mundo.
Na mesa seguinte, Tatiana Grenha apresentou seu trabalho trazendo um caso. Tatiana nos falou sobre o desejo do analista, que consiste em isolar o a –enquanto causa – do i – ideal do eu, assumindo as consequências de uma ética que se sustenta no impossível. Ainda nesta mesa, Ana Cristina Moreira trouxe seu trabalho intitulado “O que fazemos quando fazemos análise?”, sublinhando pontos fundamentais da clínica para pensar os desafios para o analista nos tempos atuais. Ela propôs uma inversão da passagem da verdade ao gozo numa análise, isto é, um caminho que vai do gozo à verdade. Colocou o sintoma hoje como sendo da ordem do real, e apontou para o falasser como sendo o sujeito e a substância gozante. Nos fala de um gozo possível através de uma construção do Outro em análise, e da possibilidade de se fazer um “bom uso” desse gozo, obtendo satisfação no ponto onde o saber falta. Stella Jimenez foi a debatedora da mesa. Sobre o trabalho de Ana Cristina, destacou o surgimento de sintomas sem o inconsciente na atualidade, atravessados pelo discurso da ciência, inviabilizando a produção de um saber próprio do sujeito sobre o inconsciente. A partir disso, recoloca a questão trazida por Ana como título de seu trabalho: como colocar em análise sujeitos que chegam muito atravessados por seu gozo?
Na terceira e última mesa, Anna Carolina Nogueira iniciou apresentando seu trabalho intitulado “Devastação mãe e filha e o supereu”, e trouxe pontos importantes sobre a sexualidade feminina. Colocou a questão: o que perde uma mulher quando perde um amor?, afirmando que o amor amarra algo que é da ordem do real numa mulher. Anna coloca a vertente da devastação e do deslumbramento como estando ambos atrelados ao gozo feminino. Por fim, Annabel Albernaz apresentou seu trabalho sobre a arte de Cindy Sherman, já fazendo uma articulação com o trabalho de Anna, ao afirmar que a arte seria um possível tratamento desse inominável do gozo feminino. Falou sobre o corpo enquanto não-todo, uma vez que algo dele não se inscreve no simbólico, indagando-se sobre como então se faria essa circunscrição. Cindy Sherman faz uso do próprio corpo, produzindo diferentes “imagens do feminino”, e o que ela busca é uma subjetivação desse vazio de significante. Annabel coloca a análise como uma possibilidade de remanejo do gozo da devastação e a arte apontando, no trabalho de Cindy Sherman, uma maneira de lidar com o corpo que é não-todo.
Maria do Rosário do Rêgo Barros, enquanto debatedora, aponta como a saída da castração por parte da mulher tem relação com a devastação. Sugeriu pensarmos não a respeito da perda de um amor, mas sim da busca deste por parte da mulher, como sendo a busca de um significante para fazer suplência à falta. Sublinhou a articulação entre devastação, demanda de amor e supereu feita por Anna em seu trabalho, e sublinhou um ponto importante: o gozo da devastação não se confunde com o gozo feminino. Na devastação, trata-se de um encontro devastado com o não-todo. Em seguida, propôs pensarmos, no contemporâneo, nessa saída devastadora como tendo relação com certo modo de decepção com o pai. Rosário coloca, ainda, que o lado não-todo pode ter tratamento quando referido ao falo, de outra forma é da ordem do horror. Numa relação que não seria devastadora, o amor de um homem é também a possibilidade de uma mulher ser Outra a ela mesma.
Sobre o trabalho de Annabel, Rosário aponta que Cindy Sherman buscou no olhar do Outro o horror que ela vivia em si mesma, como sendo um modo de tratamento desse horror. Não seria uma via, pela arte, de construir uma outra para si mesma? Trata-se de uma saída inventada por Cindy Sherman pela via do sinthoma. Ao se vestir, ela aponta para o vazio, fazendo uma função de semblante que aponta para o real. Cindy revela os semblantes a partir de uma inscrição fálica em suas fotos, uma saída que encontra pela via do feminino e que pode ser, não só, do horror da devastação.
Após a apresentação dos trabalhos, houve um brunch para brindar a merecida conclusão de uma turma causada com a transmissão da psicanálise, o que se fez mostrar na fineza e qualidade dos trabalhos apresentados. Parabéns, turma do ICP 2012!
Mariana Pucci (Turma 2015)
* Todas as menções aos casos clínicos apresentados na Jornada foram retirados em nome do sigilo dos pacientes.