Marina Morena Torres & Clara Reis

A escolha do tema “Loucuras e Amores na Psicanálise” deu um tom extremamente clínico para as jornadas desse ano. O interessante foi pensar de que maneira as loucuras e os amores estavam presentes em cada trabalho apresentado e, por se tratar de psicanálise, a singularidade de cada loucura e cada amor. Escolhemos aqui fazer um breve comentário sobre algo que saltou aos ouvidos ao longo de muitas das falas, plenárias, testemunho de passe: o feminino.

Maria Josefina Fuentes nos presenteou com seu belíssimo testemunho de passe, mostrando o difícil caminho de análise das mulheres marcado pela inexistência dA mulher, que força cada uma a inventar e nomear seu feminino.

Em uma mesa simultânea, Ana Lúcia Lutterbach lembrou que apesar da importância política do feminismo – movimento que se tornou organizado a partir do século XX dando um lugar diferente às mulheres que lutavam por direitos civis de igualdade  –  este não diz nada a respeito do feminino da psicanálise.

Araceli Fuentes afirmou, citando Lacan, em sua fala, que não há limites para as concessões que uma mulher faz a um homem, marcando a aproximação entre loucura e feminino como um laço ligado pelo amor. Lacan nos ajuda a pensar na mulher a partir do lado do “ser” e não na lógica do “ter” ou “não ter” – A diferença na posição feminina estaria então referida à forma de gozar das mulheres. E que forma seria essa?  As mulheres, assim como os homens, por estarem na linguagem, são submetidas a um limite em sua forma de gozar. No entanto, são também atravessadas por outro tipo de gozo, dessa vez, uma faceta opaca e desmedida. O amor aparece como algo feminino, e que em muitos casos leva a loucuras. Assim, a busca no amor poderia trazer à mulher uma experiência de gozo indizível e devastador. Como bem colocado por Araceli, no feminino há um extravio em que se perde a bússola fálica. Submersa no gozo indizível não há possibilidade de se construir uma identidade feminina e a mulher estaria dividida na experimentação desses dois gozos.

Lacan em Televisão diz que “o universal do que elas desejam é loucura: todas as mulheres são loucas” o que nos faz pensar que nessa estreita e intrigante ligação entre amor, loucura e feminino há sempre os mistérios singulares de cada mulher.