Breve ponto discutido em 22/03/2016

No primeiro encontro do Núcleo de Psicose e Saúde Mental iniciamos a discussão do texto “De la sorpresa al enigma”, encontrado na conferência de Miller na abertura do Conciliábulo de Angers, 1997, publicado em Los inclassificables de la clinica psicoanalítica. Miller destaca a diferença entre assombro e surpresa na clínica da neurose e da psicose.

Todos somos traumatizados pelo real da língua, o sintoma surge dessa marca. A língua é uma costura de fragmentos de linguagem que impactaram e marcaram o corpo do sujeito. O assombro estaria mais do lado do sentido e a surpresa algo mais do real.

Em uma análise, o impacto da fala do analisante causa efeitos, algumas vezes, efeitos de surpresa. Na neurose o recalque é o start da repetição, o que implica o retorno do recalcado constituindo-se como motor daquilo que poderá ser tomado como surpresa. Mas, e na psicose, como pensar a surpresa diante do fato da forclusão? Precisamos ir além dos termos e conceitos freudianos, nos forçando a buscar uma resposta pela via topológica, perceber onde se deu o rompimento dos registros, para, em parceria com o sujeito psicótico, construir isso que não se revela, mas que se constata.

Aquilo que se enuncia, que irrompe a partir da surpresa é algo do real, é um índice da opacidade do gozo, uma emergência do gozo, de lalíngua, da letra, de um acontecimento de corpo e “isso” se configura como uma peça solta que não cabe na subjetividade. A análise é uma tentativa de fazer caber “isso” na subjetividade. O dispositivo do passe nos transmite um savoir y faire com esse “fazer caber”, como algo mais do lado de uma pura diferença e do singular e menos do laço social.

Enlaçando o texto com o tema do Congresso AMP 2016, “O inconsciente e o corpo falante”, segundo o próprio Miller em seu texto-argumento, quando falamos de sinthoma dizemos sobre o falasser. Miller situa a coincidência entre escabelo e sinthoma a partir do passe e da obra de Joyce. O sinthoma como sintoma do falasser está ligado ao seu corpo e exclui o sentido. Em nossa discussão pudemos extrair que o efeito de surpresa faz ressonância com o corpo falante como efeito de poesia no corpo. Para o próximo encontro do núcleo ficou a proposta de avançarmos a partir da conferência de fechamento de Angers: o vazio e a certeza.

Francisca Menta

Programa de 2016.1

Coordenação: Vicente Machado Gaglianone (vmgaglia@yahoo.com.br)
Co-coordenação: Paula Borsoi (borsoi.paula@gmail.com)
Horário: segundas e quartas terças-feiras do mês, às 19h30
Início: 8 de março de 2016

“Da surpresa ao enigma na clínica das psicoses”

Por: Vicente Machado Gaglianone

Em 2016 faz vinte anos da famosa tríade de conversações do Campo freudiano – o Conciliábulo de Angers, 1996, a Conversação de Arcachon, 1997, e por fim, a Convenção de Antibes, 1998.  Encontros importantes de nossa comunidade, que guardam um marco simbólico fundamental e decisivo para a clínica das psicoses. A série acabou sendo coroada com o significante “Os casos inclassificáveis da clínica psicanalítica”.

Nesse contexto, havia uma urgência em “saber dizer” (para fazer eco com a provocação de Miller para nosso próximo congresso mundial em abril de 2016, aqui no Rio de Janeiro) do novo na clínica das psicoses, o qual era exigido pelo desdobramento do ensino de Lacan. A primeira clínica que era assentada nos conceitos de inconsciente estruturado como uma linguagem como resposta ao complexo paterno do mito edípico passaria a ser suplantada pela segunda clínica, mais além do Édipo e do Nome do Pai, que responderia a foraclusão generalizada: uma clínica universal do delírio. Essa nova clínica suscitava necessariamente uma passagem da classificação dos universais da estrutura ao singular do sintoma, por isso “Os inclassificáveis” teria ganhado força agalmática nessa conjuntura.

Na conferência de abertura de Angers, proferida por Miller sob o título “Da surpresa ao enigma”, vai nos dizer que cabe a nós analistas colocarmo-nos ativamente como surpreendidos, e que será com o apoio da surpresa, para além das regularidades da verificação dos universais, que avançaríamos na nova clínica. Daí a formulação da contundente proposição “a decepção é a resposta merecida quando se convoca a surpresa”[1] A fim de bem situar o caráter de tal decepção, Miller propõe diferenciar a surpresa do assombro. Do lado deste insere o estado de ânimo que é a virtude do filósofo e do poeta, estado que possui durabilidade. Do lado da surpresa a descontinuidade e a contingência. À posição de surpreendidos deveria ser acrescida a de surpreendentes, por ser outra posição sine qua non ao analista no ofício da interpretação. “É preciso surpreender algo cuja incidência original foi marcada como traumatismo”, cita de Lacan tão trabalhada por Éric Laurent em “O Trauma ao avesso”. Surpreendido, surpreendente e por fim surpreendedor – o analista alinhado àquele que surpreende o real.

Mas se o real é in-surpreendível por retornar sempre no mesmo lugar, como fazê-lo? Miller responde que é para o sujeito em seu automaton que esse retorno se confunde com seu destino, e que é preciso então, pela via da contingência propiciada numa análise, que esse destino seja surpreendido.

Mas, ao psicótico caberia a relação com a surpresa? Se for o recalque o start da repetição, onde localizar a surpresa na psicose?

Será nesse ponto de impasse que Miller retomará ao fim da conversação os desdobramentos dessa pergunta, com outra conferência intitulada “Vazio e certeza”, e que será matéria de um novo informe de nossa pesquisa.

Nosso trabalho no núcleo nesse primeiro semestre constará de 6 encontros, nos dias 22 de março, 12 de abril, 10 e 24 de maio e 14 e 28 de junho.

22 março- leitura da conferência “Da surpresa ao enigma”.

Em: Los inclasificables de la clínica psicoanalítica. Jacques-Alain Miller y otros, Paidós.

12 abril– leitura da conferência “Vazio e certeza”.

Em: Los inclasificables de la clínica psicoanalítica. Jacques-Alain Miller y otros, Paidós.

10 maio– leitura do caso clínico de Philippe De Georges “Paradigma de desencadeamento”

Em: Los inclasificables de la clínica psicoanalítica. Jacques-Alain Miller y otros, Paidós.

24 maio– Conferência de um colega ainda a confirmar: “Da “Instância da letra” à “Questão preliminar”- avanços no ensino de Lacan na clínica das psicoses.”

Leitura prévia: “A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud”, Lacan, Escritos, e “De uma questão Preliminar a todo tratamento possível da psicose”, Lacan, Escritos.

14 junho- Discussão de caso clínico para conversação virtual com Núcleo de Minas.

28 junho– Conversação virtual com Núcleo de Minas.


[1] Miller, J-A y otros. Los Inclasificables de la clínica psicoanalítica. Editora: Paidós, Buenos Aires, 2008, p18.

Programa de 2016.1

Coordenação: Selma Pau Brasil (selmabrasil@gmail.com) e Ana Martha Wilson Maia (anamarthamaia@gmail.com)
Horário: primeiras e terceiras terças-feiras do mês, às 19h30
Início: 01 de março de 2016

Freud relaciona a solidão ao desamparo primordial, à perda do objeto e à angústia. Com Lacan, para além do objeto causa de desejo, quando o Outro já não mais existe, a solidão é efeito do trauma da linguagem que deixa marca no corpo. “Quem fala só tem a ver com a solidão” – diz ele, no Seminário 20, enfatizando o gozo do Um. Miller se refere a este gozo autista da solidão estrutural como gozo nativo.

A solidão e as toxicomanias constituem o tema do próximo encontro do TyA. É nessa direção que trabalharemos em 2016, articulando em nossa pesquisa estes dois sintomas da época: a solidão globalizada e a toxicomania generalizada. Buscaremos, assim, circunscrever que função a droga desempenha para o corpo falante, na solidão de seu gozo.

Bibliografia inicial:

BASSOLS, Miquel. Soledades y estruturas clínicas. Revista Freudiana – Lazos y soledades: toxicoman. ELP. Paidós, nº.12. 1994

BASSOLS, Miquel. Soledades II. Desescrits. Disponível em http://miquelbassols.blogspot.com.br
Pharmakon Digital. Rede TyA do Campo Freudiano. Edição 01. 2015.

Programa de 2016.1

Coordenação: Stella Jimenez (stjimenez@terra.com.br) e Angélica Bastos (abastosg@terra.com.br)
Horário: às sextas-feiras, quinzenalmente, às 10h30
Início: 04 de março de 2016

A heresia ética do sexo: Qual a relação entre os nomes genéricos que o sujeito encontra na contemporaneidade e os nomes singulares que surgem na experiência psicanalítica? Além de não ser determinado pelo sexo biológico, nos dias atuais o falasser não é levado a se identificar sexualmente com os tipos ideais tradicionais. Aparecem novas formas de auto-nomeação. O que nós, psicanalistas, temos a dizer sobre isso? Trabalharemos essas questões em casos clínicos de participantes do núcleo, casos da literatura e filmes.

Programa de 2016.1

Coordenação: Vicente Machado Gaglianone (vmgaglia@yahoo.com.br)
Co-coordenação: Paula Borsoi (borsoi.paula@gmail.com)
Horário: segundas e quartas terças-feiras do mês, às 19h30
Início: 8 de março de 2016

Como no ano passado, continuaremos nossa pesquisa com o foco nas coordenadas possíveis que o sujeito psicótico encontra para “fazer-se” um corpo. Sublinhamos o fato de que Lacan a partir do “Estádio do espelho” nos ensina que o imaginário é menos a imaginarização dos “Contos de Fadas” e mais o que há de real no jogo especular. O que há de real no jogo especular é aquilo que, para todos, não se unifica com o apoio da imagem e, para os sujeitos psicóticos, que não dispõem da veste e do semblante a velar esse despedaçamento originário, fica aber-ta a via de devastação que o gozo mortífero impõe.

Verificar as modalidades de invenções que esses sujeitos dispõem para fazer suplência à foraclusão do Nome-do-pai, e o que isso nos ensina na clínica do falasser, será nossa tarefa para 2016.

Continuaremos com nossa metodologia de pesquisa que alterna en-contros teóricos com clínicos, e conversações virtuais com o Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais.

A bibiografia será divulgada posteriormente.

Programa de 2016.1

Coordenação: Cristina Duba (cristina.duba@gmail.com)
Horário: segundas e quartas sextas-feiras do mês, às 16h00
Início: 26 de fevereiro de 2016

Prosseguiremos nossa investigação em torno das questões que atravessam duplamente o campo da Psicanálise e do Direito, mais especificamente voltados nesse momento para a questão da segregação e do racismo, orientados em nossas interrogações pelos textos de Lacan, Miller, E. Laurent e M-H Brousse.

Programa de 2016.1

Coordenação: Ana Lucia Lutterbach (aluluho@gmail.com)
Co-coordenação: Ana Tereza Groisman (anatfg@gmail.com)
Horário: às sextas-feiras, quinzenalmente, às 10h30
Início: 26 de fevereiro de 2016

Tema: O Corpo falante

Nos meses que antecedem o X Congresso da AMP, nos dedicaremos ao tema Corpo falante e sua interseção com a pesquisa da Unidade: A clínica do parlêtre, escrita e leitura do caso clínico a partir de textos de Freud, Lacan, Miller e outros autores que já compõem nossa biblio-grafia básica.

Programa de 2016.1

Coordenação: Maria do Rosário do Rêgo Barros (collier@terra.com.br) e Maria Inês Lamy (mariaineslamy@gmail.com)
Horário: segundas e quartas terças-feiras do mês, às 21h00
Início: 08 de março de 2016


Em 2016, a NRCereda/BR pesquisará o tema proposto por Jacques-Alain Miller¹ no encerramento da III Jornada do Instituto da Criança, em Paris: a adolescência.

No texto em que lança o programa de trabalho, Miller discute uma série de questões que se abrem para os adolescentes e tenta pensá-las diante das configurações contemporâneas. Um primeiro ponto, de crucial importância, seria a sexuação, uma vez que atualmente os lugares tradicionais de homem e de mulher estão em suspenso. Já a incidência do mundo virtual provocaria o que ele chama de “autoerótica do saber”, que não passaria pela relação ao Outro. O autor refere-se também ao enfraquecimento do Nome do Pai e seu efeito de desorientação, observável nos jovens. E lembra que os chamados sintomas contemporâneos – alcoolismo, toxicomanias, anorexia e bulimia – se manifestam bastante entre os adolescentes.

Propomos discutir o tema da adolescência percorrendo vários textos, desde nossa primeira referência em Freud² e, sobretudo, nos deixando guiar pelas questões que os casos clínicos nos colocam. Tentaremos assim cernir o lugar do psicanalista hoje.

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1 Miller, J. A. Em direção à adolescência. Intervenção de encerramento da III Jornada do Instituto da Criança. Tradução de Cristina Vidigal e Bruna Albuquerque, revisão de Ana Lydia Santiago.

2 Freud, S. “Transformações da puberdade”. Em “Três Ensaios sobre a sexualidade” (1905). Em: Obras Completas, vol. VII.

Programa de 2016.1

Coordenação: Ondina Machado (ondinamrm@gmail.com) e Heloisa Caldas (helocaldas@terra.com.br)
Horário: segundas e quartas sextas-feiras, às 14h30
Início: 26 de fevereiro de 2016


A adolescência em ato

Aproveitando o tema da EBP deste ano, pretendemos fazer a articulação entre a Clínica do ato e a adolescência. Trata-se de um período da vida em que passagens ao ato e acting out predominam como respostas à angústia. Parece-nos também que é quando se observa mais nitidamente os efeitos radicais da degradação da ordem simbólica, da descrença no Outro, no poder da fala e no privilégio dos semblantes. A contestação à tradição é marcada pela rebeldia na qual muitos jovens põem seu próprio corpo em atos de risco. Por sua vez, a autoridade também responde a esta rebeldia de forma intransigente, não abrindo espaço para que estas reivindicações tenham um encaminhamento simbólico. As parcerias amorosas, atualmente, atravessadas pelos recursos tecnológicos, em alguns casos, ganham conotações violentas, segregativas e difamatórias. O imperativo da verdade e da transparência, estruturalmente impossível, esbarra com o mal entendido dos gozos e, muitas vezes, o recurso ao ato tenta dar conta dessa impossibilidade estrutural ou mesmo do imperativo de tudo dizer ou mostrar. Pretendemos estudar casos clínicos de suicídios, criminalidade e desestabilizações em jovens, além de investigar fenômenos sociais atuais, como a adesão a movimentos radicais, tentando entender este “momento em que a socialização do sujeito pode se fazer pelo modo sintomático” (J.-A. Miller, In: “Em direção à adolescência”).

Bibliografia:

FREUD S. “As transformações da puberdade” (1905). In: Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, parte III. ESB, volume VII. Acessível por: https://www.passeidireto.com/ arquivo/4156685/freud—ensaio-iii—as-transformacoes-da-puberdade-1905 LACAN, J. (1974/2003) “Prefácio a ‘O despertar da primavera’”. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, pp.557-559.

MILLER, J.-A. Em direção à adolescência. Acessível por: http://minascomlacan.com.br/blog/em-direcao-a-adolescencia/


IMPORTANTE: Os interessados devem mandar e-mail para ondinamrm@gmail.com explicando o motivo do interesse na pesquisa.

Programa de 2016.1

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