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Sobre a Conversação virtual dos Núcleos de Psicose e Saúde Mental do Rio e de Santa Catarina

Vicente Machado Gaglianone

No dia 6 de maio, sábado, às 14hs, aconteceu na Seção Rio a primeira de uma série de Conversações virtuais entre os Núcleos de psicose do Rio e de Santa Catarina. Esse modelo de intercâmbio, que propicia entender e ao mesmo tempo favorecer o múltiplo de nossa Escola, mostrou-se um dispositivo vivo e dinâmico, que já desenvolvíamos há quatro anos com o Instituto de Minas. Abre-se, agora, com SC mais uma série que esperamos dar muitos frutos.

Nessa primeira conversação coube a eles apresentarem o caso e, após nossos comentários, abrir uma roda de conversa. Transcrevo abaixo resumidamente o teor de nossos comentários – a conversação propriamente dita está sendo transcrita para posterior divulgação.

O caso, de autoria de uma colega de Santa Catarina, sob vários aspectos, mostrou-se como um presente sob medida para o “clima” que nos concerne (nós, da grande comunidade do Campo freudiano) nesse ano de trabalho. Ele tensiona, ao menos, um grande pilar da temática de nosso Congresso Mundial que se avizinha: a questão da continuidade/descontinuidade na clínica das psicoses. Sabemos pelas leituras que nos orientam já há vinte anos, desde as grandes Conversações francofônicas e, em particular, as mais recentes que orientam nossa temática, que o binarismo N/P assentado no operador fálico esgarçou-se, gerando uma nebulosidade nos operadores nosográficos. Se a foraclusão é generalizada, a neurose passa a ser uma espécie de gradus da psicose e não o contrário. Não que sejamos todos psicóticos (apesar de delirantes), trata-se do fato de que todo discurso é uma defesa contra o real, como indica Anna Aromí e Xavier Esqué no texto de orientação para Barcelona: foraclusão do significante d’Amulher para todos e foraclusão do significante Nome-do-Pai para a psicose.

No caso de Aline, logo de saída se coloca o problema do desencadeamento tardio de sua psicose. Ao que sugere a leitura do caso, ela virou-se relativamente bem na vida até meados de seus 40 anos. Decidir sobre as coordenadas do desencadeamento é uma tarefa que nos cabe enfrentar, já que não nos parece tão imediata a compreensão. Fica a lembrança da fala irônica de Miller em “Efeito de retorno da psicose ordinária” quando se pergunta se Schereber seria um psicótico ordinário antes do desencadeamento, ou ainda se sua psicose teria desencadeado se ele estivesse sob transferência, em análise.

“Sob transferência” parece ser a chave mestra. Aromí e Esqué mais uma vez colocam o acento aí ao lembrarem que nas psicoses ordinárias o buraco foraclusivo se manifesta por sinais discretos, como uma espécie de carta roubada de Poe, como lembra Bassols. Está ali, mas ninguém a vê. Salvo, é a aposta, sob transferência. Poder, então, localizar no intenso trabalho desses sujeitos aquilo que faz função de grampo, enodando, ainda que de forma frágil, as consistências está na base do processo. Acompanhá-los na regulação de suas pragmáticas examinando os modos pelos quais um sujeito inventa um nó com o imaginário, o simbólico e o real que o sustente sem o auxílio do Nome-do-pai. É como Miller nomeou: a clínica das sutilezas, modular, da gradação e da tonalidade. Miller propõe como uma verdadeira bússola clínica, em seu já citado “Efeito de retorno”, três externalidades: social, corporal e subjetiva, tarefa nem sempre fácil de executar.

Após o desencadeamento, nos parece seguro apostar, a paciente abriu uma psicose esquizofrênica. Lapsos de memória, problemas com o tempo e espaço, alucinações visuais e auditivas, delírios de perseguição, mas sem uma localização de gozo no Outro tão marcada. A hipótese de uma regressão tópica ao estádio de espelho, com franca desorganização do registro imaginário implicando aí todos os fenômenos do corpo morcelée, é bem visível. A questão diagnóstica é sempre um pouco tensa, mas o diagnóstico não é só segregação – até é também se ele vira um imperativo categórico apartado das coordenadas subjetivas do sujeito, mas, bem usado, organiza todo um campo de trabalho. Lembremos Miller em “Efeito de retorno”, nos advertindo que uma psicose ordinária é uma psicose e é nosso trabalho, sob transferência, relacioná-la à paranoia ou à esquizofrenia e também à melancolia.

Há indícios do buraco no simbólico desnudado após o desencadeamento, onde se desfez a parceria que lhe servia de suporte imaginário, realizando, assim, a posição de objeto expulsado do campo do Outro. Ela, como objeto dejeto, sem nenhuma fantasia que pudesse regular a relação do sujeito com o objeto.

Junto com a analista, com a eleição de objetos fora do corpo, foram criando alguma suplência à fragmentação do corpo.

 

Notícias da 4ª Conversação Virtual dos Núcleos de psicose e Saúde Mental do Rio e de Minas

Na 4ª Conversação Virtual realizada pelos Núcleos de psicose e Saúde Mental do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, foi comentado pelo Núcleo do Rio um caso apresentado pelo colega de Minas Frederico Feu. Um fragmento clínico de uma paciente atendida por ele em um dispositivo da saúde pública.

Frederico Feu fala sobre o silêncio do analista nas sessões. Algo que pode dar ao corpo um tratamento sem palavras. Produzir escansões para desconstruir a pregnância do Outro. O silêncio apoia a estrutura e por outro lado, a interpretação desconstrói a consistência do Outro.

                                                                                                                                         Leonardo Miranda

* Todas as menções aos casos clínicos apresentados na Jornada foram retirados em nome do sigilo dos pacientes.

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