Marina cita Miller em Peças Soltas ao falar da dimensão real do corpo como mais além do significante, ou em outras palavras, o corpo falante enquanto inconsciente é o real. Entretanto, a problemática que persiste na psicanálise vai justamente ao encontro dessa afirmação: o que pode ganhar, afinal, estatuto de significante ou não? Unido a isso e ainda como ecos do Enapol, Marina ratifica que a questão de como atingir o gozo com a palavra parece assombrar insistentemente os analistas, uma vez que há uma hiância inalcançável entre o significante e o que escapa dele como gozo.
Aponta ainda que há uma disjunção do significante e gozo, já que este prescinde do Outro. Ora, se o percurso de uma análise vai do corpo falado pelo Outro (sintoma) para o falar com o corpo (sinthoma) e a clínica atual nos mostra uma dificuldade de dirigir-se ao Outro, a questão do que é possível ao analista se faz presente. Marina nos indica que os analistas já estão sabendo-fazer alguma coisa diante disso, porém é preciso dizê-lo melhor, ou transmiti-lo melhor, se podemos assim articular, e faríamos então, tal como deve ser, a teorização da prática e não a prática da teoria.
Com isso, Marina aposta de que o encontro com um analista tem efeitos no corpo e na subjetividade elevada a uma “dignidade subjetiva”. Uma questão ficou para mim: se é preciso localizar o falante do corpo, que não é discurso, e só temos a fala do analisante, como pode o analista escutá-lo?
Heloisa Shimabukuro (Turma 2013)