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Conversação dos núcleos do ICP

No dia 08 de dezembro de 2022, os Núcleos de Pesquisa do ICPRJ se reuniram mais uma vez para realizar uma Conversação. O evento aconteceu de forma híbrida, presencial e virtualmente. Neste post, trouxemos a contribuição do Núcleo de Topologia para a discussão do tema e do caso apresentado.

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Por: Ana Tereza de Faria Groisman

 

A conversação entre os núcleos de pesquisa do ICP-RJ, em 2022, partiu de uma pergunta lançada pela coordenação de núcleos: “o que é um caso para a pesquisa clínica no ICP?”. O núcleo de pesquisa em medicina e psicanálise escreveu o relato de um caso atendido num dispositivo institucional e acompanhado por uma participante do núcleo: O Caso E. No núcleo de topologia, dedicamos dois encontros ao seu estudo e, no primeiro encontro, junto com Elena Lerner e Flávia Hasky, me dediquei a fazer uma leitura topológica do caso.

Organizei o relato, destacando três momentos que nos ajudam a circunscrever uma lógica do caso E.

 

Primeiro momento: tempo pregresso

Considero que seria, mais do que um momento específico, uma perspectiva histórica recolhida do prontuário da paciente: sua chegada ao Caps AD como local de tratamento. As crises de angústia eram descritas por ela como “falta de ar” e “mal-estar difuso”. Qualquer fator orgânico que poderia provocá-las é descartado, porém, nota-se que as crises vinham sendo tratadas por ela com a ingestão desordenada de medicamentos (ansiolíticos), o que orientou seu encaminhamento para um centro de atendimento votado para usuários de Álcool e outras drogas. A ingestão abusiva de substâncias se desloca da função de tratamento e passa a ser interpretada como sintoma a ser tratado.

Logo nas primeiras entrevistas, ela associa angústia e medo às dores difusas pelo corpo.

 

Segundo momento: repetição e demanda

Um circuito se desenha alguns anos depois de sua chegada. Ela narra, para a praticante que a acompanha, a sequencia de fatos que tende a se repetir incessantemente: a falta de ar sentida no corpo (interpretada por nós como sinal de angústia), o não reconhecimento do outro de que algo não está bem (a irritação do marido e deboche do filho relatados por ela), a irrupção da violência que se espalha entre todos (o tapa que dá e a briga que começa), a emergência da urgência que a leva ao Caps (lugar de tratamento e acolhimento da demanda). No Caps, recebe a garantia de que goza de boa saúde (aferição de seus sinais vitais), e finalmente o apaziguamento e contorno dado pela equipe que a atende a tranquilizam e estabilizam seu humor. Um circuito que tende a se repetir inúmeras vezes.

O que chamamos de circuito, também pode ser pensado como um enredo, ou uma cena que tenta enquadrar um gozo que itera. A “falta de ar” é sinal de uma presença estranha ao Eu, algo no corpo não funciona como deveria. Seria este o sinal de um gozo disruptivo que desarranja sua consistência narcísica?

 

Terceiro momento: o “silêncio eloquente”

Esse momento foi lido por nós como um momento de corte ou de um ato propriamente dito, pois divide o tempo entre um antes e um depois, subverte a relação entre o sujeito e o objeto e localiza um ponto onde paciente e praticante sofrem seus efeitos de surpresa.

Gostaríamos de destacar a fórmula que o núcleo de medicina encontrou para nomear o ato da praticante: “silêncio eloquente”, uma fórmula paradoxal e ao mesmo tempo absolutamente precisa para nomear o objeto voz. A eloquência é sempre atribuída à fala, não às palavras ditas, mas ao que dá peso a enunciação e orienta os enunciados. Este silêncio, portanto, tem estrutura de linguagem e valor de enunciação.

Consideramos que, o que dá eloquência ao ato, é justamente o fato dele se desprender de qualquer protocolo. A praticante dá voz ao silêncio que se impõe. Vale salientar que ele não se dá, sem que antes sejam tentadas outras saídas. Ele se impõe como limite, na borda do saber. Esse ato tem efeitos para a praticante e para a paciente, que finalmente acolhe o olhar e as palavras ditas como pontos de apoio.

Em nossos encontros, concluímos que as palavras que faziam apelo a uma retificação subjetiva, algo como: “você está incluída na causa daquilo que se queixa”, só puderam ser ouvidas de dentro: “ouço sua voz vindo da minha cabeça”, a partir do “silêncio eloquente”. É nesse ato (silencioso) que localizo o corte que viabiliza o advento do sujeito do inconsciente.

O corte é condição necessária, mas não suficiente, para que um tratamento possa prosseguir numa via orientada pela psicanálise. Até aqui, apesar do tanto de trabalho feito no acolhimento decidido pela equipe do Caps AD, poderíamos supor com a topologia que E. seguia como um pneuzinho (um toro) girando ao redor de um furo, sem nada querer saber sobre o que a faz girar.

Como veremos com a topologia de superfície, a partir do corte (interpretação) que subverte a estrutura, o imaginário tende a se recompor. O furo revelado pela estrutura moebiana que põe em relação o sujeito e o objeto a, tende a se tamponar novamente. Mas, a nossa aposta, é de que o furo não se fechará da mesma maneira.

 

Uma leitura topológica do caso

“Vem agora um pouco de topologia…” é assim que Lacan introduz em seu texto “O Aturdito”, a apresentação que faz do corte que viabiliza uma mudança na estrutura do discurso. Esse corte pode ser lido, portanto, como efeito da interpretação ou do ato do analista. Ele descreve passo a passo, o corte que produz uma subversão topológica que desvela a superfície moebiana que o toro escamoteia, “a evidência da banda é homologada pelo esvaziamento do toro”. O corte produz a “verdadeira banda”, aquela que se equivale a seu corte (Lacan, 2003, p.470).

No vídeo abaixo, é possível visualizar o corte que produz a subversão do toro em banda de Moebius, que na clínica corresponderia ao momento propício a entrada em análise ou ao surgimento do inconsciente transferencial.

https://youtu.be/876a_0WAoCU

Para Lacan, o corte e a banda são equivalentes: “O que se evidencia, é que a banda de Moebius, não é outra coisa senão esse mesmo corte, aquele pelo qual ela desaparece de sua superfície” (idem, p.471).

Lacan prossegue, localizando a passagem da banda ao cross-cap, que se infla em esfera a partir dela, é um inflado imaginário que coloca em relação o sujeito do significante e o objeto a. Ele pode ser lido como uma apresentação do matema da fantasia ($ ◊ a), ou ainda, como uma variante do esquema R, onde o simbólico e o imaginário se articulam pela torção da realidade. Porém, na passagem dos esquemas para o Cross-cap, o real se imiscui na fantasia. Segundo Lacan, “realizando a topologia, não saio da fantasia, mas confirmo que é a partir do discurso em que se funda a realidade da fantasia, que aquilo que há de real nessa realidade, se acha inscrito” (idem, p.478).

No aturdito, Lacan nomeia o Cross-cap como a (a)sfera, um inflado, com a aparência de esfera, mas que inclui uma torção interna que aloja o objeto em relação de extimidade com o sujeito.

Neste vídeo, é possível visualizar a estrutura do cross-cap: https://youtu.be/W-sKLN0VBkk

Por conta dessa torção, o dentro e o fora encontram-se em continuidade. Por isso, a voz da praticante (no caso E.)  pode ser ouvida como vindo do lado de dentro da cabeça, ou o olhar dela pode ser buscado como testemunha ou apoio que lhe assegura um contorno corporal. A paciente encontra seu lugar no olhar da praticante.

Aqui, vale lembrar da imagem que Lacan nos oferece da transferência em seu texto “Posição do inconsciente”, onde ele descreve o inconsciente como o “lugar onde isso fala”, e o relaciona com a caverna de Platão (e também de Ali Babá) , onde nela vemos entrar o psicanalista: “mas as coisas são menos simples, porquê essa é a entrada a que nunca se chega senão no momento em que ela é fechada (esse lugar jamais será turístico) e porque o único meio de ela se entreabrir é chamar do lado de dentro”, um abre-te Sésamo pelo efeito de linguagem (Lacan, 1998, p.852).

Retomo essa passagem para visualizarmos a torção que se opera com o ato da praticante, uma torção que introduz um novo lugar no discurso. As palavras produzem efeitos por serem ouvidas desde o lado de dentro da caverna, é de lá que se produz uma abertura para a dimensão inconsciente e uma possível retificação subjetiva. Uma topologia de borda, onde o dentro e o fora colocam-se em continuidade.

Voltando ao Aturdito, Lacan nos ensina que a topologia não é uma teoria, mas “deve dar conta de que haja cortes do discurso tais que modifiquem a estrutura que ela acolhe originalmente”. Esse corte não se dá como efeito da intervenção da sabedoria, ele irrompe no ato que brota no limite do saber.

A passagem do toro à banda e ao Cross-cap ((a)sfera) apresenta uma ficção que fixa um furo que conecta as duas dimensões do dizer. O objeto se torna êxtimo e, de fora, toca o mais íntimo de cada um: “sua voz entrou na minha cabeça” é a formulação poética de E. que demonstra de forma clara que é de dentro que o dizer poderá alcançar a dimensão do gozo.

Por fim, uma nota sobre o tempo: a topologia Moebiana não apresenta uma subversão apenas do espaço, onde a localização Euclidiana se dissipa, mas também subverte a relação com o tempo, onde o antes e o depois nem sempre se sucedem cronologicamente. Retomo aqui um recorte de Lacan na apresentação que faz de seu texto sobre o tempo lógico, onde diz que “o depois se fazia de antecâmara para que o antes pudesse tomar seu lugar” (Lacan, 1998, p.197).

A partir disso, penso ser razoável considerar que, no caso apresentado, o silêncio (posterior ao dito) serviu de antecâmara para que a voz ressoasse num novo lugar. O tempo da interpretação não coincide com o momento em que a praticante enuncia suas palavras, mas sim, se sucede ao corte que o silêncio produz.

 

 

 

Bibliografia:

LACAN, J. O tempo lógico e a asserção da certeza antecipada. In: LACAN, J. Os Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.

LACAN, J. Posição do inconsciente. In: LACAN, J. Os Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998.

LACAN, J. O aturdito. In: LACAN, J. Outros Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.

 

https://youtu.be/876a_0WAoCU

https://youtu.be/W-sKLN0VBkk

 

 

 

 

 

Sobre a Unidade de Pesquisa Clínica e Política do ato

Por: Leonardo Miranda

Este texto é fruto das discussões realizadas na Unidade de pesquisa Clínica e Política do Ato, tendo como proposta para esse ano de 2016 pensar o tema da adolescência. Através das apresentações de Fred Chamma e André Spinillo da terceira parte dos “Três ensaios sobre assexualidade” (FREUD, 1905) introduzimos a discussão sobre as questões que envolvem a puberdade seguindo a indicação do texto de Miller “Em direção à adolescência” (MILLER, 2016). Ainda na primeira parte do texto de Miller nos deparamos com a seguinte frase que nos convocou à pesquisa: “É   também   o   momento   de   se   levar   em consideração,   dentre   os   objetos   do   desejo,   o   que   Lacan   isolou   como   o   corpo   do Outro”. Neste momento, visando um aprofundamento desta parte destacada, Heloisa Caldas propôs que Ondina Machado apresentasse os trechos de sua tese intitulada”A clínica do sinthoma e o sujeito contemporâneo” (A tese toda está em www.ebp.org.br) onde trata sobre o corpo do Outro, como o trecho a seguir:

“Sujeito do significante e sujeito do gozo são as duas vertentes da insígnia. Essa duplicidade, todavia, pode ser aplicada também ao conceito de Outro. Este Outro é o lugar do significante. Mas Lacan também o define como corpo enquanto deserto de gozo.” (ONDINA, p.76)

Ondina comenta que o corpo para a psicanálise é uma substância de gozo. O corpo para psicanálise não é corpo enquanto não incide nele o significante. Sempre tem um dito que fixa o modo de gozo. Como é um dito que incide sobre o corpo? A gente não lida com o corpo antropológico, nem com o ontológico, nem com o corpo biológico, o corpo com o qual lidamos é uma substância gozante. Ele não é uma abstração, não está no mundo das ideias, mas também não é um corpo como matéria, como organismo, tampouco é o corpo da existência, do devir. Ele não é corporal, mas também não é incorpóreo, é  o corpo como o lugar do Outro porque nele (corpo) que está a marca do significante (incorporal). O corpo é uma substância gozante porque é atravessado pelo significante. É neste sentido que o corpo é sempre o lugar do Outro, lugar de um dizer.

Puberdade não coincide com a adolescência, esta última pode ir mais longe, até mesmo à vida adulta. As metamorfoses do corpo na puberdade convocam o sujeito a se reposicionar diante do Outro. A forma (imagem) do corpo muda e os antigos dizeres sobre si não servem mais para situá-lo no Outro da família, da cultura. Seu corpo ocupa um espaço diferente e à sua fala passam a ser atribuídas consequências inéditas (brincar de médico, masturbação, namoro). O Outro sexo o convoca a manifestar seu desejo com palavras e com o corpo. Aqui o Outro sexo é qualquer corpo que não seja o seu. A mediação entre dois corpos (que só como corpo corporal não existem) é feita pela fantasia, pois é ela que vai conectar o sujeito a seus objetos. O corpo do semelhante não trás problema, é o corpo no qual incidem as marcas do Outro que é o problema, o que se produz quando esse dizer incide no corpo e faz dele Outro para o próprio sujeito.

Prosseguindo com as apresentação do texto de “Em direção à adolescência” (MILLER, 2016) discutimos sobre a diferença entre os sexos na adolescência, tentando pensar as diferenças precoces apontadas por Freud e destacadas por Miller. Levantamos algumas formas atuais de expressão como os blogs, tentando ver o que cada sexo posta pela internet e verificar se ainda valem as ideias de que a menina tende à inibição e ao recalque, demonstrando um amadurecimento precoce, enquanto o menino teria uma tendência a se manter infantil sexualmente. Camila Drubscky conta sobre o caso de uma jovem que não demonstra em nada esta inibição, pelo contrário, se mostra muito desinibida quanto ao sexo. Camila se prontificou a escrever o caso e trazer para discussão.

Paralelamente  foi indicada a leitura  de um caso publicado em um livro organizado por Éric Laurent*, que passou a orientar nossas discussões fazendo um contraponto com o caso mencionado por Camila.

Continuamos a discussão do texto do Miller na parte em que ele trata da imiscuição do adulto na criança. Levantamos a hipótese do adulto funcionar como um ideal para a criança, usando como exemplo a passagem que Miller conta sobre sua neta, que está no “Prólogo para Damásia”**. A menina disse que não acreditava mais nem em coelhinho da Páscoa nem em Papai Noel, mas manteria esta tradição quando tivesse seus filhos. Há um lugar para a criança, mas na perspectiva de tornar-se um adulto. É a partir disso que podemos pensar na imiscuição do adulto na criança, não como exigência, mas como ideal. Assim poderíamos entender a adolescência como tempo para compreender as transformações da puberdade. Traçamos algumas distinções preliminares sobre o ideal do eu e o eu ideal, situando o primeiro na via do simbólico e dirigido ao Outro e o segundo na via imaginária do querer ser, que daria margem à formação das fratrias, tribos, grupos. Este assunto foi aprofundado por  Sandra Landim que nos apresentou suas articulações, retiradas do Esquema R de Lacan, em paralelo com as primeiras leituras do caso clínico “Otra marca posible”*.

Sandra Landim apresentou o esquema R de Lacan, como está no texto “De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose” (LACAN, 1959. p. 559) para falar do narcisismo e de como ele faz surgir o ideal do eu e o eu ideal. A partir da apresentação da Sandra discutimos sobre se o ideal hoje ainda orienta escolhas e atos, questão importante para este período da vida e para pensar a passagem ao ato.

Márcia Muller comentou sobre a tendência à procrastinação, levantando questões sobre o mundo atual e a multiplicidade das opções possíveis como facilitadora da procrastinação, a se adiar um momento de concluir da adolescência. Márcia deu também destaque ao modo como os jovens lidam com o saber atualmente, à influência do Google e à expressão de Miller de que “osaber está no bolso”. Ao pular o Outro, como fonte do saber, a teoria do complô ganha relevo respondendo à desidealização do Outro e a forma degradada e nociva que surge quando se evoca o Outro como saber ou como ordem.

Rejane Nunes tratou das mutações na ordem simbólica fazendo alguns paralelos com a Saúde mental. Perguntou-se se o enfraquecimento do simbólico corresponderia ao que se passa na psicose.

Camila Drubscky comentou um momento em que Ondina teria chamado atenção para a importância que a dor tem no processo da tatuagem. Diferente de épocas passadas, atualmente, não se estabelece tanto uma relação entre a figura tatuada e uma historia/cena da vida do sujeito. O que tem aparecido com maior frequência  é  a valorização da dor. Daí a possibilidade  de pensar a tatuagem como uma tentativa de constituir um corpo, fazer corpo quando as bordas do corpo estão imprecisas.

 * LAURENT, É. y otros. Cuerpos que buscan escrituras. Buenos Aires: Paidós, 2014. Os textos são: apresentação do caso – “Caso 1- Otra marca posible” e Discussão sobre o caso 2. Caso 1 “El impulso a cortarme” o hacer magia”.

** Freda, Damasia Amadeo de. “Prólogo para Damasia”. In: El adolescente actual. Nociones clínicas. San Martin: Unsam Edita, 2016

Bibliografia:

FREUD S. “As transformações da puberdade” (1905). In: Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, parte III. ESB, volume VII. Acessível por: https://www.passeidireto.com/arquivo/4156685/freud—ensaio-iii—as-transformacoes-da-puberdade-1905

LACAN, J. De uma questão preliminar a todo tratamento possível da psicose. In. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1998

LACAN, J. (1974/2003) “Prefácio a ‘O despertar da primavera’”. Outros escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar editor, pp.557-559.

MILLER, J.-A. Em direção à adolescência. Acessível por: http://minascomlacan.com.br/blog/em-direcao-a-adolescencia/

Sobre a Conversação com Hélène Deltombe no Colóquio da EBP-Rio e do ICP-RJ

Por: Ana Maria Lima (Turma 2015 ) 

A conversação clínica com Hélène Deltombe durante o Colóquio da EBP-Rio e do ICP-RJ Despertar do adolescente: do gozo ao desejo, trouxe ainda mais profundidade a reflexão sobre a direção no tratamento nos dois casos já trazidos para o ICP, surgiram mais detalhes e cenas da clínica. O que podemos dizer que continuou mais marcante foi a destreza da psicanalista em conduzir o tratamento pela clínica do real do gozo, sem perder a dimensão das estruturas edipianas clássicas, ali presentes e registradas,  mas com o tratamento orientado para os significantes de gozo.

Foram discutidos dois casos da prática de Hélène Deltombe com adolescentes. Nos deteremos em alguns breves comentários sobre eles.

A psicanalista se atém ao tratamento do gozo, da vontade de “felicidade”, para a paciente, o gozo absoluto, tendo no horizonte a pulsão de morte. Fazendo emergir o enigma do sintoma em contraponto à fantasia de gozo a qual ela tudo se submete, a paciente se vê as voltas com o desejo de saber, fazendo conexões entre suas produções artísticas e sua subjetividade. Logo: “A força da experiência analítica a colocou na dimensão dos traços significantes de sua existência, lhe abrindo a via de uma expressão artística que tocava seu gozo”. A paciente passa a poder produzir um laço social com sua arte, assentindo com a não relação sexual, e colocando-se mais no movimento de conquista de saber do que da demanda de felicidade anterior.

No outro caso, o paciente começa, a partir da análise, a desconsistir a importância do grupo com quem se identificava e compartilhava um ódio segregatório, proveniente de uma relação parental muito influente na sua formação, que se ressentia do gozo do outro. A partir do olhar da psicanalista é possível chegar ao significante marca do seu ódio, que também marca seu estranho familiar. Ele pode então aproximar-se de sua história de uma forma diferente. O desejo de saber se dá pela satisfação obtida com a descoberta de uma nova língua e pela curiosidade de suas origens.

Nos dois casos, é possível acompanhar a virada do gozo ao desejo, que se dá pela via do significante, pela constituição de um enigma do sintoma, e o desejo de saber, que abre portas para outros meios de satisfação que incluem uma certa conciliação com a não relação sexual e a impossibilidade do gozo absoluto fora da morte.

 

O que não se vê: crianças fascinadas, seduzidas e educadas pela tela

Por Maria do Rosário Collier do Rêgo Barros

Grupo de trabalho: Analícea Calmon, Astréa da Gama e Silva, Bibiana Poggi, Cristina Vidigal, Fátima Sarmento, Fábio Malcher, Jorge Carvalho, Maria Inês Lamy, Maria Elizabeth da Costa Araújo, Valéria Ferranti

“Enquanto tal, a virtualização não é nem boa, nem má, nem neutra (…). Antes de temê-la, condená-la ou lançar-se às cegas a ela, proponho que se faça o esforço de apreender, de pensar, de compreender em toda a sua amplitude a virtualização”. Pierre Lévy[1]

O título desta conversação, “Crianças fascinadas, seduzidas e educadas pela tela”, nos convida a pensar os diferentes efeitos sobre as crianças do encontro com as várias modalidades de telas que lhes são oferecidas na televisão e em seus computadores, celulares, ipads, iphones, etc. Para situar esses efeitos precisamos levar em conta a mutação que a criação desses gadgets produziu na civilização, e em seguida verificar o uso que as crianças têm feito deles, lembrando que isto vai depender em grande parte da maneira que seus interlocutores: pais, professores e até mesmo colegas, encontrarão para acolher e estar presentes na relação delas com a tela.

O analista, por sua vez, será aquele capaz de verificar o uso singular que cada criança faz da tela, e assim localizar como esta entra em jogo na construção da fantasia e do sintoma, ou funciona, em algumas situações, como obstáculo para essa construção. É preciso também não esquecer os casos em que a tela serve como recurso, como mediação para tratar o excesso de presença do Outro[2].

Em 1914 Freud[3] nos apresentou o “quarto da criança” como um espaço onde esta encontra a presença do outro parental e seus objetos pulsionais. Lacadée[4] resgata esta expressão e comenta que no seu quarto a criança cria um espaço, no qual apreende seu corpo como objeto de gozo, mas também pode se apreender como elemento à parte, isolando-se e vivendo seu ser como objeto rejeitado.

No tempo da inexistência do Outro, a criança pode encontrar, no uso dos gadgets que hoje fazem parte do seu quarto, novas formas de recuperação do seu gozo e também a possibilidade de se libertar do excesso do Outro.

Por um outro lado, a fantasia se constrói a partir da emergência de uma questão que não tem resposta nem nas imagens e nem nas representações. Sua construção, para a qual cada um tem que dar de si, vai servir ao mesmo tempo de tela e enquadre para velar e cingir um ponto de real que se apresenta de várias maneiras na relação do sujeito com sua imagem, com o Outro e com seu corpo.

O encontro com a imagem no espelho, como indicou Lacan, é um momento privilegiado de aparecimento de um ponto não especular que convoca a uma construção. É a partir daquilo que não se vê que a imagem, que aparece no espelho, articula o real do objeto perdido com os significantes veiculados pela fala do Outro. O simbólico, nessa operação, atravessa o imaginário e ao mesmo tempo em que faz uma articulação, produz uma escansão entre o que é dito do sujeito e a imagem que dá unidade e consistência ao seu corpo. A imagem atrelada ao significante ganha assim a dimensão de semblante, que ao mesmo tempo indica e vela o real em jogo. A questão que se coloca é como cingir na relação com a tela esse ponto de real, aquilo que não se vê, ao olhar e ser olhado.

A profusão de imagens oferecidas pelas telas termina por constituir um muro[5] que mascara a dimensão do olhar. Ao mascará-la tenta eliminar a hiância estrutural entre olhar e ser olhado, motor do terceiro tempo da pulsão, “fazer-se olhar”. É essa hiância que a fantasia vem circunscrever, permitindo que se possa circular pelas posições de sujeito e de objeto, graças ao impossível que ela vem velar, mas que é ao mesmo tempo o que a sustenta. Será que a fantasia faria assim limite à transparência, ao tudo ver como pretensão do momento atual? Ou será que os avanços tecnológicos da ciência chegarão a volatilizar até mesmo esse recurso da fantasia, que se apoia no que há de mais singular na relação de cada um com seu gozo? Esta relação, como sabemos, se refere à forma como cada um se virou para lidar com o inevitável de uma perda que, de saída, convocou o sujeito à criação de sua realidade psíquica. A maneira como os gadgets vêm encarnar o mais-de-gozar tentando manipular a causa de desejo poderia nos fazer acreditar ser possível eliminar a fantasia. Mas o que está talvez em jogo é uma “decadência ficcional da verdade”[6], obrigando-nos a recorrer ao real como o que não tem estrutura de ficção. Cabe ao analista apontar o real, não permitindo que a verdade seja absorvida pela ficção, resgatando assim o não todo da verdade. Esse é o caminho por onde o analista pode favorecer a transformação do mais-de-gozar em causa de desejo, tão importante hoje nas diversas relações que a criança pode ter com a tela sem se deixar escravizar por ela.

A política do olhar, que reina atualmente, tem a pretensão de transformar o mundo em um todo visível, desconsiderando que existe no campo da visão um nada ver ou um ver nada, como Lacan tão bem desenvolveu em seu Seminário XI, ao diferenciar o olhar como objeto a, da visão. A arte, diferentemente da ideologia da ciência, mostra o que não se vê. Ela resiste, assim como a psicanálise, a essa política do olhar a serviço da vigilância, que se torna cada vez mais generalizada.

Acreditar na transparência é reduzir o sujeito a um homem sem qualidades, a uma cifra a ser usada e manipulada nos cálculos estatísticos.

As telas são usadas cada vez mais com essa pretensão. Ao olhá-las, acreditando poder ser sujeito desse olhar particularizado, estamos sendo olhados por um olho anônimo que nos transforma em cifras a serviço do mercado de trocas e vendas. Essa pretensão produz, no entanto, um mal estar crescente causado pelo uso da máquina que “reconfigura o mundo e tem efeito de invasão e saturação”[7].

Para nos situarmos nessa conjuntura, será necessário considerar a função do olhar, não como uma atividade do sujeito que olha, mas como objeto, como aquilo que faz mancha no espetáculo do mundo, olha sem olhar-me e me fascina[8]. Ernesto Derezensky, citando Lacan, sublinha que o olhar pode ser signo de um desejo que permanece como uma incógnita. Para Lacan, o olhar poderá tanto sustentar como devastar uma existência[9], dependendo de como ele vai manter sua relação com o vazio nesse ponto mesmo de opacidade do olhar – nada a ver. Quando essa relação se perde, poderá haver uma quebra no enquadre que sustentaria um impossível de ver, e o olhar se transforma em devastação. Quando o olhar aparece na tela, sem que se possa lhe dar o enquadre da fantasia, é preciso lançar mão de outros recursos para evitar ser sugado pelo abismo ilimitado das imagens. Esta é nossa aposta: que mesmo diante da profusão das imagens, será possível sempre ressaltar a relação ao vazio. Caso contrário, o fascínio “pode ter como efeito parar o movimento e literalmente matar a vida”[10].

A questão que nos orienta neste trabalho é a seguinte: como as crianças têm se virado com esse mundo reconfigurado pelas telas que lhes são oferecidas, já simulado pelo cálculo[11], que tem muitas vezes efeitos infernais? Algumas delas sucumbem a esses efeitos, ao ficarem escravas de suas ofertas em programas de televisão e jogos eletrônicos.

Os sintomas das crianças tanto podem ser lidos como formas de resistência (um apelo ao Outro) quanto de desistência (um se entregar sem limites). Mas, nessa última alternativa, de quem seria a desistência: da criança ou do Outro? Mesmo quando elas se entregam aos excessos, fascinadas pelas telas, ainda assim podemos pensar tratar-se de resistência, ao causar tumulto e perturbação em seu entorno. Dessa forma convocam, mesmo sem se darem conta, um bom entendedor para quem poucas palavras ou muitas imagens bastam para trazer de volta o sujeito ao campo da fala e da linguagem, que pode incluir o corpo, devolvendo a ele seu lugar com todo o mal-entendido que lhe é próprio.

Um simples clic no controle remoto é suficiente para conectar as crianças ao mundo das imagens. Estar atento ao uso que cada criança faz dessas imagens e à maneira como ela fala disso é o que vai permitir o corte entre o virtual e o pulsional, dando lugar ao que há de único em suas construções.

Os quatro casos apresentados em nossas discussões preparatórias nos permitiram apreender como essas crianças e adolescentes iam buscar nas imagens da tela algo para lidar com a estranheza de um gozo em seu corpo assim como com o opaco do desejo do Outro que operavam em seu sintoma.

O festival Anima Mundi de 2015 trouxe vários filmes que tratam desse assunto. “O filme do americano Dan Lund, diretor de “Aria for cow”, diz que não quis retratar “as máquinas como vilões”, e sim “a desconexão entre um homem e seu entorno. No filme, um ordenhador imerso nas músicas de seu iPod tira leite de uma vaca praticamente sem se dar conta da presença do animal. A vaca, então, numa contorção narrativa, protagoniza um número musical em que exige respeito do fazendeiro” (Jornal Globo de 6/7/15). A arte resiste, nos oferecendo uma oportunidade para tomar distância da submissão à máquina. E o analista do século XXI não perde essa oportunidade, na medida em que vai privilegiar, na sua escuta e nas suas intervenções, os enigmas produzidos pelos pontos de real que através da tela não se pode ver.

* Texto produzido para uma das Conversações que tiveram lugar no VII Enapol – Encontro Americano de Psicanálise da Orientação Lacaniana, “O Império das imagens”, em São Paulo, ocorrido em setembro de 2015: http://oimperiodasimagens.com.br/pt/.

[1] Lévy, Pierre: O que é o virtual? , Editora 34, São Paulo, 1996

[2] A tela tem sido um recurso importante utilizado por crianças autistas e psicóticas para suportar a presença do Outro e permitir o contato.

[3] Freud, S. Algumas reflexões sobre a psicologia do escolar – 1914, Vol. XIII

[4] Lacadée, P. – A bússola do sim e do não – Cien Digital 16; agosto 2014

[5] Wajcman, Gérard: L’oeil absolu, Éditions Denoël

[6] Miller, J-A: El Otro que no existe y sus comités de ética, Paidós, Buenos Aires, 2005, pg. 15.

[7] Miller, Jacques Alain: “A era do homem sem qualidades in Revue de la Cause freudieene n. 57, pg. 92

[8] Derezensky, Ernesto: “O percurso de um olhar”, na Scilicet Los objetos a en la experiência psicoanalítica, verbete Olhar.

[9] Lacan, Jacques: Seminário, Livro 16 “De um Outro ao outro”, cap XVI pg. 245 , Jorge Zahar Editor:

[10] Lacan,Jacques: Seminário Livro 11, Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise: , Zahar Editor, Rio de Janeiro, 1998, pg. 114.

[11] Triclot, M : Philosophie des jeux video, Paris, editions la Découverte, 2011,pg. 50, citado por Giraudel, Agnès in Le corps avec et sans l Autre, Scripta, pg 49.

[12] Lacan, Jacques: Le Séminaire, Livre 16, De um Outro ao outro, capítulo VII (Introdução à aposta de Pascal) e capítulo VIII (O Um e o pequeno a) Zahar Editor, 2008.

Sobre a apresentação da dissertação Kakon: passagem ao ato e responsabilidade na psicose, de Carlos Costa

No último encontro do Núcleo de Psicanálise e Direito, Carlos apresentou um resumo de sua dissertação.  Sua apresentação sob o título “Kakon: passagem ao ato e responsabilidade na psicose”,  foi dividida em cinco partes: na primeira desenvolveu o fenômeno do kakon à luz da economia libidinal e do mal-estar que o caracteriza desde as primeiras definições na historia da psiquiatria – passando por Esquirol, Guiraud e Cailleux, Clerambault até os comentários de trabalhos mais recentes, como Maleval e Tendlarz. Constituindo um dos núcleos destes desenvolvimentos, a ideia de crime imotivado além da crítica de Lacan a estas leituras, iniciada já em “Agressividade em psicanálise”.

A segunda parte tratou da “Psicose, gozo e mal-estar: o objeto a no bolso”, com destaque para os conceitos de separação, extração do objeto,  além de temporalidade e causalidade. Na quarta parte o autor entrou na questão da “Passagem ao ato: inscrição da diferença”, abordando diversas dimensões da passagem ao ato enquanto operador de inscrição de diferença tais como a subtração de gozo e a emergência do “novo”. Dentre outras passagens sobre a separação do objeto, Carlos destaca a lição “A voz de Javé”, do seminário A angústia, onde o som do chofar “presentifica um objeto… uma separação junto ao corpo”, e uma primeira negativização do objeto subtraído ou “passado ao ato”.

Além da bibliografia, Carlos apresentou também nesta parte, pequenas vinhetas ilustrativas de sua experiência própria com a clínica de psicóticos ou loucos envolvidos em assassinatos. Segundo o autor, depreende-se daí que “aquilo que retorna sobre o louco privado da possibilidade de subjetivação, pode ser tão ou mais prenhe de horror que a experiência mesma”.  Lembra ainda que “na contramão da querela pericial, Maleval complementa… uma conclusão: não basta curar, é preciso elaborar a culpabilidade, encontrar meios para reparar o crime, investir em novos objetivos na existência”.

Na quinta parte, “Rumo à responsabilidade”, Carlos recompõe os argumentos de Lacan desde a década de 50 em seu debate com a ciência contemporânea, assim como o debate da relação entre responsabilidade e punição. Descreve a concepção de assunção lógica ou assentimento subjetivo, afirmando que estas noções implicam “que o psicótico aloje um lugar para o ocorrido”. Destaca que já em Freud encontra-se uma proposta de “um ponto de junção entre terapêutica e ética”, p. ex. em casos de sonhos cruéis que devem ser admitidos como produção própria pelo autor do mesmo.  E ainda, encontra em Lacan, no seminário O sinthome, a seguinte referência sobre o mesmo tema: “Não se é responsável senão na medida de nosso savoir-faire”, a ser lido, segundo ele como o sujeito deve comparecer no inconsciente “colocando algo de si”, (a despeito) de sua determinação inconsciente (e do) formalismo que esta implica. O que pode também ser colocado em termos do “onde isso era, como sujeito, devo advir”.

A discussão teve início com um comentário de Manoel acerca de trabalhos de Celso Rennó, J.-A. Miller,  Pierre Naveau e Maleval. Em especial, a equivalência proposta por este último, entre o kakon, a pulsão de morte freudiana e o objeto a de Lacan, para situar a passagem ao ato. A seguir, afirma que a passagem ao ato só é uma extração de objeto no caso do ato do psicótico. Caso contrário, constitui uma tentativa de simbolização de modo selvagem, não podendo ser considerada uma via terapêutica.  Pergunta como Carlos chegou a isolar o kakon do gozo, ao afirmar que “o kakon não é um problema de gozo…”.

Outras questões se seguiram à de Manoel. Mirta, partindo do encadeamento (passagem ao ato homicida – subtração de gozo – inscrição no real), coloca uma questão sobre o que é que se inscreve nessa passagem ao ato. Pergunta ainda se ele concorda que, considerando que seja possível pensar o id freudiano como um kakon, poder-se-ia considerar também um objeto como uma anterioridade lógica da linguagem – citando a foraclusão do gozo oral milleriana – e que a passagem ao ato tocaria esse puro objeto, um gozo pré-simbólico seria tocado.

Lenita lembra que não é possível desconectar o kakon da passagem ao ato e do crime de gozo. Coloca uma questão na mesma direção das anteriores: “por que você tira dos crimes do gozo os crimes do kakon?”. Comenta o crime das irmãs Papin como resultado da impossibilidade de subjetivar o objeto olhar, e que a extração do objeto teria aplacado o gozo avassalador, sendo por isso, um esforço de elaboração e mostrando que as coordenadas significantes, de diferentes modos, estão sempre presentes na passagem ao ato. Comenta também a questão do novo começo presente em toda passagem ao ato, e que o sujeito que resulta ali jamais será o mesmo.

Seguiu-se então uma discussão sobre as articulações da passagem ao ato no tempo, no real e no simbólico. Uma possível distinção entre uma temporalidade mais aguda da emergência do não simbolizado do fenômeno psicótico, na forma de uma urgência do ato, mais do lado de uma invasão de gozo do que de uma restauração da ordem pela extração do objeto ou destruição do objeto ideal em si próprio e no outro.

Manoel admite a presença constante de coordenadas significantes em toda passagem ao ato, o que não excluiria uma distinção entre uma dimensão bem estruturada pelo delírio de outra dimensão do ato onde se encontra uma franja pequena em vez de um delírio estruturado. Por exemplo, a distinção entre a passagem ao ato no caso Aimeé e no caso Papin mostra que neste último, há um quadro simbólico, mas com pregnância do imaginário e da imagem. Mostra ainda que a dimensão do delírio não é a mais importante nesse ato.

Novas questões surgiram trazendo  a dimensão do ato nos casos de assassinatos em série comparativamente a outros tipos de passagens ao ato. São discutidas as noções que presidem a polaridade crime de gozo x crime de utilidade.

A seguir passamos aos comentários de Carlos sobre as questões levantadas até este ponto, e que foram finalizados com uma rica apresentação de um caso atendido por ele no Hospital de Custódia Heitor Carrilho, ilustrando e esclarecendo as várias questões levantadas ao longo do debate.

Mônica Rolo e Lenita Bentes

Comentários sobre o Eixo 1 da Manhã Clínica das XXIV Jornadas Clínicas da EBP-Rio e do ICP-RJ

A primeira mesa, com o título ‘O ilegível do sintoma e a opacidade do gozo’, apresenta questões da clínica nas dimensões da voz, som, escrita e leitura. Voz/som que provoca acontecimento de corpo, o mal estar do corpo, um corpo que padece além da dimensão biológica. Escrita/leitura que aparece como endereçamento possível à inscrição subjetiva. O que convoca o analista às questões paradoxais da sua formação: como ler o sinthoma e identificar o lugar de gozo no corpo? Como avançar do objeto a ao sinthoma, para que apareça a alteridade radical, aquilo que não se lê, o que não faz significante na cadeia?

O tema desta mesa convoca a pensar: O que muda na ética da psicanálise de hoje? Quais são os limites da prática? A verdade mentirosa e o gozo, o avanço dos conceitos e sua inscrição em cada caso, oferecendo a possibilidade de leituras ao analista e analisando. A escrita como expressão do que se lê e o que se (in)escreve numa análise. A interrupção do analista opera, num determinado momento da análise, e convoca a pensar sobre a interpretação hoje. Entender os deslocamentos do sentido para o gozo, como também pensar se a fantasia mantém a sua vigência, se pode servir como ferramenta para as neuroses. Se sim, como isso se isso dá? A verdade e o gozo, hoje, apresenta o deslocamento do conceito de inconsciente (Freud) para o Falaser (Lacan) – da verdade ao gozo.

A segunda mesa ‘um olhar sobre o narcisismo’ apresenta o singular modo de viver o mal entendido de um corpo. Como um adolescente pode se virar com o seu corpo em análise? Do ideal do eu ao eu ideal e o narcisismo. O que se configura do corpo na adolescência parece ser uma entrada do adulto na criança. Miller no seu livro em direção à adolescência, diz: o adolescente nega o real para viver os signos. E na velhice há um narcisismo terciário? Envelhecer doí, a imagem especular que convoca o ideal do eu e eu ideal. O real, imaginário e simbólico de um corpo que envelhece. Cita Clarice Lispector, ‘em que espelho ficou o rosto?’. O resto e a dor que traduz esse pulsar que está prestes a cessar. A analista interroga-se sobre a possibilidade do narcisismo terciário, mas o inconsciente, como diz Freud, é infantil. E também não acontece a morte de um corpo infantil na adolescência?

Através do filme ‘O abutre’ nas imagens que apresentam semblantes de corpos, imagens de traços traumáticos, a pregnância de um olhar que vê os fragmentos de um corpo e indaga o que é ter um corpo. Do espetáculo do horror a indagação do que não se vê. O corpo revisitado, a mídia e o falaser, faz indagar sobre o lugar do gozo do corpo na sociedade atual.

Pensar o corpo seja nas imagens despedaçadas, apresentadas no filme ‘abutre’ – do gozo do um que não incluí o outro, mas que produz efeitos naquele que vê as imagens. Seja no corpo da adolescência, um tempo de reafirmar a escolha sexual, dar conta das transformações de um corpo que provoca o desconhecido – Quem é esse adulto em mim? Uma demanda do que pode ou não ser formulado do ilimitado do amor. Seja na velhice que urge o anunciado da finitude de um corpo, isso também se dá noutros tempos da vida? As pessoas envelhecem, mas o sujeito envelhece? A dor de existir nos vários tempos da vida, a dor do dente cabe dentro do orifício – um olhar sobre o narcisismo. Ir além, entre doer e doar há uma escolha do sujeito. Já temos muito que se haver com o narcisismo primário e secundário, independente da idade cronológica, como diz Freud, o inconsciente é infantil. O corpo como o lugar do trauma, sempre escapa. A aposta do analista no tratamento do que excede no gozo está para além do significante ser adolescente ou ser velho, traduz o diferente lugar da psicanalise que não obtura como o geriatra/pediatra, deixando aberto o buraco, a ferida que doí e pulsa. A caverna psicológica de cada um e suas marcas no corpo, a intervenção do analista padece com a sustentação do que é possível em cada tempo de analise.

A terceira mesa revela os modos de tratamento do gozo na transferência. A obra de Pina Bausch como uma possibilidade de um corpo na psicose que evoca o caso Joyce (Lacan) de um enlaçamento na produção subjetiva. Como o mistério da libra de carne, extração do objeto do mundo como resposta subjetiva na construção do fantasma marca cada corpo? O percurso que o trabalho chega quando se pensa o corpo na psicose – Como Joyce e Pina se servem da arte para depois achar o saber que recolhe? Certas coisas se dizem em palavras, outras só podem ser sentidas ou por movimentos como a dança ou escritas de fragmentos vivos. Tem certas coisas que não sabemos como ir e aí dançamos, escrevemos, pintamos… Injetar a vida na vida!

Nunca me esquecerei desse acontecimento

Na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

Tinha uma pedra no meio do caminho

No meio do caminho tinha uma pedra.”

Carlos Drummond de Andrade ·

O tempo é lógico e não cronológico, já dizia Lacan. As diferentes durações em análise, algumas bem recentes e outras bem longas, se inscrevem em recortes/leituras possíveis do analista. O desejo e aposta na travessia e o seu limite na fantasia. Qual o tempo de final de analise? O curioso quando o sujeito fala, insiste, não falta e repete a pergunta em cada encontro amoroso – Já está bom? Quem permite o final de um percurso? Do primeiro Freud ao último Lacan e leituras de Miller e outros, o lugar do analista para cada sujeito fazer a sua travessia. Os cuidados da clínica atual, um acontecimento de corpo e gozo, só sendo possível na condição de transferência do suposto saber num tempo que não é cronológico é lógico de cada um.

A convocação do nome do pai e a cisão, um drama marcado pelo S1. Uma experiência vivida, também por Lacan, na cisão da escola EBP com a AMP e representada pelo ‘Lago do Cisne’. No final a morte anunciada é apresentada na fantasia e no real, se constrói numa travessia que leva tempo, o tempo de cada um. A função da dança, a arte no resto, aquilo que falta e insiste em cada encontro com o desencontro. O corpo revisitado permite o delírio, o sinthoma é um acontecimento de corpo, a corporificação da entrada da linguagem no corpo.

O sujeito falaser e sua fuga errante num gozo sem sentido, um corpo e o seu lugar de dor na busca de sentidos, as escolhas de objeto de amor, a construção de um corpo que se apresenta estranho e provoca sensações fora de controle. O corpo seja na adolescência ou velhice, e suas marcas de um acontecimento de corpo que insiste e padece na imagem especular do ideal do eu e eu ideal. A libido e os objetos perdidos à urgência de uma vida que se esvai nas imagens de corpos sem vida, num gozo que se reproduz num excesso em que cada um há que chegar à dose certa do seu resto.

Ana Cristina Aguiar Vilhena de Carvalho (Turma 2014)

* As menções que pudessem identificar os casos clínicos foram retiradas em nome do sigilo dos pacientes.

Ressonâncias da conferência de Marina Recalde: O mal entendido do corpo

Marina cita Miller em Peças Soltas ao falar da dimensão real do corpo como mais além do significante, ou em outras palavras, o corpo falante enquanto inconsciente é o real. Entretanto, a problemática que persiste na psicanálise vai justamente ao encontro dessa afirmação: o que pode ganhar, afinal, estatuto de significante ou não? Unido a isso e ainda como ecos do Enapol, Marina ratifica que a questão de como atingir o gozo com a palavra parece assombrar insistentemente os analistas, uma vez que há uma hiância inalcançável entre o significante e o que escapa dele como gozo.

Aponta ainda que há uma disjunção do significante e gozo, já que este prescinde do Outro. Ora, se o percurso de uma análise vai do corpo falado pelo Outro (sintoma) para o falar com o corpo (sinthoma) e a clínica atual nos mostra uma dificuldade de dirigir-se ao Outro, a questão do que é possível ao analista se faz presente. Marina nos indica que os analistas já estão sabendo-fazer alguma coisa diante disso, porém é preciso dizê-lo melhor, ou transmiti-lo melhor, se podemos assim articular, e faríamos então, tal como deve ser, a teorização da prática e não a prática da teoria.

Com isso, Marina aposta de que o encontro com um analista tem efeitos no corpo e na subjetividade elevada a uma “dignidade subjetiva”. Uma questão ficou para mim: se é preciso localizar o falante do corpo, que não é discurso, e só temos a fala do analisante, como pode o analista escutá-lo?

Heloisa Shimabukuro (Turma 2013)

Notícia do Núcleo de pesquisa

No encontro do dia 05 de outubro, o Núcleo se reuniu em torno da conferência “Falar com seu corpo”, de Jacques-Alain Miller (Opção Lacaniana nº 66, agosto 2013). A partir das constatações de que “a saúde mental não existe” e de que “cada um tem seu grão de loucura”, Miller nos fala da posição singular do analista frente ao discurso comum, o discurso de massa. O caráter ficcional do termo “saúde mental” reaparece quando se tenta, por exemplo, numa pretensa objetividade, expor um caso clínico como se fosse o de um paciente, sem levar em conta o laço transferencial com aquele que o escuta. O analista, diferentemente, está implicado no caso, sua presença produz efeitos, ele está “dentro do quadro” clínico, precisa pintar a si mesmo dentro deste quadro assim como Velázquez representa a si mesmo com o pincel na mão em sua tela “As meninas”.

Ao longo dos últimos anos, o discurso do mestre penetrou de maneira profunda a dimensão psi, a dimensão do “mental”, através, por exemplo, do fácil acesso aos psicotrópicos, da expansão da psicoterapia sob um modo autoritário, em se tratando sempre de uma aprendizagem para o controle. Se antes esse domínio escapava em grande parte aos governos, ele é atualmente objeto de regulações e exigências cada vez maiores. Essa progressão acontece paralelamente ao reconhecimento público da psicanálise, recolocando o desafio aos analistas de sustentarem sua posição remodelando sua prática em função do que lhes é requerido a partir do cenário atual sem abrir mão da sua ética.

Para a psicanálise, a única saúde mental que um sujeito é capaz de conseguir advém de certo exílio conquistado do discurso do Outro, advém do sintoma que uma vez esvaziado de seu sentido, nem por isso deixa de existir, mas vive sob uma forma que já não escraviza mais o sujeito. A psicanálise oferece, portanto, para aquele que nela aposta, acesso ao campo onde o mental se esvaece e deixa o real nu.

Lacan uniu com um laço essencial a verdade e a mentira, e apontou o campo que está para além da mentira do mental, a parte mais opaca do que Freud já nomeava como libido. Sendo assim, podemos observar, a partir da leitura de Miller, uma mudança no modo de se tomar o termo “desejo” na obra de Lacan: tomado como o que era irredutível à demanda, tal como pensado nos anos 50, o desejo deixa entrever agora sua face de “sentido”. O desejo, tal como no percurso de uma análise, passa também por uma deflação se apresentando agora como semblante que, como a relação sexual, é outra “verdade mentirosa”. Afirma Miller: “O desejo é o sentido e o semblante da libido, sua mentira mental”.

Outra passagem na obra de Lacan diz respeito à mortificação do corpo pelo significante. A partir do Seminário 20, é possível reconhecer que o significante não só mortifica o corpo, mas que nesta operação que recorta uma parcela de carne, esta última emerge numa palpitação que anima o universo mental. O significante não só mortifica o corpo, mas vivifica o gozo, ele marca o corpo com um vestígio inesquecível, um “acontecimento de corpo”, um advento de gozo que não volta jamais ao zero. Deste modo, como diz Miller, “o corpo não fala, mas serve para falar”. O que a psicanálise oferece para cada um é o horizonte de um saber fazer com esses gozos sem as muletas da fantasia, da tela.

Tatiana Grenha

Notícias da Unidade de pesquisa

Nos últimos encontros da Unidade de pesquisa discutimos o texto “Vitimologia”, do Bassols, que está no disponível no site do Pipol. Na direção de nosso debate, demos destaque especial ao trecho em que Balssols fala da desvitimização, termo que nos levou ao Curso do Miller Donc, que já estava em nossas referências para este semestre, no qual selecionamos o capítulo intitulado “A estrutura geral do desconhecimento”. Na discussão, buscamos entender qual a afinidade do eu com a posição da vítima.

Outro texto discutido em conjunto com o “Vitimologia”, foi “Vítimas sem gozo”, texto disponível no site do PIPOL, de Rose-Paule Vinciguerra. Neste ínterim, Heloisa Shimabukuro levou para a Unidade de Pesquisa um fragmento clínico que, além de enriquecer os nossos estudos, foi apresentado na preparatória da XXIV Jornadas Clínicas da EBP-RJ e do ICP-RJ.

Leonardo Miranda

Imagens intoxicadas: o que se olha, mas não se vê!

Temos sido desafiados, praticantes da psicanálise, a pensar sobre um modo de resposta, muito frequente no contemporâneo, que só se dá em ato e, consequentemente, com suas patologias. Passagens ao ato e actings out habitam as instituições e o social como um todo, num contexto de ruptura. Efeitos do declínio do simbólico que traz como consequência a satisfação pulsional sem mediação simbólica.

Duas cenas recentes e discutidas no Núcleo de Toxicomania e Alcoolismo retratam essa questão:

CENA 1:

Jovens acompanhados por um dispositivo da Assistência Social resolvem certo dia que

“queriam matar alguém” e fazem do dispositivo seu alvo. Apedrejam todas as janelas e tentam invadir o prédio, causando uma grande tensão. Procuram e acham outra vítima em outro lugar e o espancam quase à  morte.

CENA 2:

Relato de diferentes equipes de CAPS ad sobre reiteradas vezes em que seus pacientes dirigem a elas e a outros pacientes, agressões verbais, agressões físicas e danos patrimoniais às unidades. Não raro se faz necessário a intervenção da polícia para apaziguar os conflitos.

Embora ambas as cenas sejam atravessadas por intoxicações, há algo que escapa ao olhar, a compreensão. Parafraseando Baudrilard (2)“ por trás da maioria das imagens alguma coisa desaparece”. O que desapareceu nessas imagens intoxicadas e intoxicantes? O que faria esses sujeitos atacarem serviços e pessoas que acessam recorrentemente?

Ecoa uma questão de Santiago (8): “com qual gozo o sujeito, nos dias de hoje, se orienta?” Talvez pudéssemos nos arriscar respondendo que na contemporaneidade surge um gozo que não passa pelo simbólico e nem pelo dizer. Nesse sentido, o gozo que esta em jogo refere-se ao gozo do Um, do Um totalizante da unidade imaginária narcísica, opondo-se a toda dialética do gozo do corpo do Outro.

A questão da violência nas instituições públicas parece ser de ordem narcísica também, de substituir a palavra pela passagem ao ato ou actings out, para furar a consistência imaginária do Outro, não pela via simbólica, mas no real. Atuação no real do que não se verbaliza. Um real nu e cru, que corta como navalha.

A estrutura revelada pelo ato aponta que sua temporalidade se assemelha a da urgência, saltando do instante de ver ao momento de concluir sem passar pelo tempo de compreender.

Lacan (7) nos aponta que a agressividade é a tendência correlativa a um modo de identificação a que chamamos narcísica, e que determina a estrutura formal do eu do homem e do registro de entidades característico de seu mundo. Segue, ainda, dizendo que a eficácia própria dessa interação agressiva é manifesta, nós a constatamos frequentemente na ação formadora de um indivíduo sobre as pessoas de sua dependência: a agressividade intencional corrói, mina, desapega; ela castra; ela conduz à morte.

Lacan (7) também nos advertiu que o declínio da imago paterna viria a ser motivo de aumento da criminalidade quando a ordem fraterna foi substituída por uma ordem de ferro. Assim, segundo Bentes (4) vivemos a ditadura do gozo, cada vez mais, das patologias do ato, da violência e de sujeitos em conflito com a ordem pública.

A descrença no significante mestre, nos diz Greiser (5), leva a crer não no Outro do Significante, mas no Outro do Gozo, para fazê-lo consistir não só nas toxicomanias, mas nos atos terroristas, no suicídio ou assassinato e nos roubos seguidos de morte, sequestros e violações.

Talvez a contribuição que a psicanálise possa oferecer às equipes, que muitas vezes também respondem em atos, seja apontar que os sujeitos que necessitam de um tratamento institucional são justo os que não têm recursos simbólicos suficientes para manejar o transbordamento que os acomete. Esse transbordamento para o campo social exige novas respostas, exige um campo coletivo de intervenções que possam fazer uma borda ao sujeito, possibilitando assim, certa ancoragem ao mesmo, nos adverte Faria (4).

Podemos pensar a violência que bate às portas das instituições como oriunda do declínio de certos significantes mestres, restando uma solução pela via do imaginário que implica na reprodução de esquemas polarizantes e não dialetizáveis onde a menor falha representa um fracasso e torna impossível toda perda, esta, transformada num feroz ataque devido à debilidade do simbólico.

Bassols(1) nos alerta que uma imagem não diz nada, oculta, ao contrário, o indizível que só a palavra pode evocar ou invocar. Parece ser esse o indicativo para os praticantes da psicanálise: ouvir as imagens.

Hanna (6) nos lembra que, ao poder da imagem a psicanálise oferece o poder da palavra indicando que aí onde há uma imagem, de fato há um significante. Entre um e outro significante encontramos alojado algo irredutível ao simbólico que Lacan denominou objeto a, cuja elaboração permitiu repensar o campo escópico dando lugar à separação entre o visível e o olhar. Ela aponta ainda que, embora saibamos, através do recolhemos na experiência analítica, que o poder da palavra não elimina o poder do imaginário, um não substitui o outro, há algo que resiste, e é com essa resistência que caminhamos, partindo do real.

                                                                                                                               Autora: Selma Pau Brasil

Co-autores: Lenita Bentes, Simone Delgado, Gustavo Corinto,

Pablo Campos, Fernanda SaintMaritn e Gisele Fleury

 

Referências bibliográficas:

  • Bassols- O império das imagens e o gozo do corpo falante. IN: BoletimFlash nº 00 do VII Enapol.
  • Baudrilard, J. O desaparecimento do mundo real. IN: Boletim Flash nº 04 do VII Enapol
  • Bentes, L. V, G. – As Patologias do ato. Rio de Janeiro: Vermelho Marinho, 2014.
  • Faria, M.W.S.- El tratamento posibledel toxicómano em lainstitución, IN Pharmakon, nº 10, 2005.
  • Greiser, I. – Delito y transgresión, um abordaje psicoanalítico de La relación del sujeito com la ley. Buenos Aires: Grama Ediciones, 2008.
  • Hanna- Algumas perguntas em torno do império das imagens. IN: Boletim Flash nº 03 do VII Enapol.
  • Lacan, J. –A agressividade em psicanálise, IN: Escritos. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.
  • J. – Efeito- Charlie e a política do não todo. IN: Nel Notícias, 2015.

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