Ao longo deste semestre, e mais especificamente nos últimos encontros, trabalhamos a relação entre a psicanálise e a ciência.

Pensar na relação entre ciência e psicanálise é considerar a divisão do sujeito entre verdade e saber. Divisão constitutiva do sujeito da linguagem elaborada por Lacan em “A ciência e a verdade”.

Muitos objetos surgidos no discurso da ciência foram apropriados por Lacan para estruturar a experiência analítica. Extraídos da matemática e da geometria, podemos apontar, por exemplo, a banda de Moebius e a garrafa de Kevin usados por Lacan como objetos topológicos para operar mudanças estruturais em conceitos antes divididos como avesso e direito, interior e exterior, inconsciente de um lado e linguagem de outro. Estas formas geométricas tornaram pensáveis a correlação e continuidade, o que faz a verdade na psicanálise ter um estatuto diferente da verdade na ciência. O real também figura como diverso para uma e outra.

Miller, em “O passe da psicanálise…”, situa que a psicanálise “joga cartas” com a ciência, e enquanto a ciência tende a um axioma positivo: “há saber no real”; o axioma que orienta a psicanálise lacaniana é “não há relação sexual”, o que faz furo no saber no real.

Miguel Bassols, na conferência “Psicanálise, ciência e real” lembra que Lacan explorou a relação entre a ciência e a psicanálise, que encontra no significante seu “ponto de apoio”.

Psicanálise e ciência dão conta de reais diferentes. A psicanálise, do Real da linguagem (na forma da “não relação”); a ciência procura dar conta do Real que calcula.

Neste percurso de leitura foi possível constatar, como Bassols menciona, que a psicanálise não é sem relação com a ciência do nosso tempo, e que não há ciência sem sujeito do inconsciente.
Link para “Psicanálise, ciência e real”, por Miguel Bassols

Ana Maria Lima e Marina Valle, revisado por Adriano Aguiar