José Marcos de Moura

Este comentário refere-se a conversação virtual entre os Núcleos de Psicose e Saúde mental do Rio e Santa Catarina, ocorrida no dia 06 de maio de 2016.

Basicamente utilizei o livro de Nieves Soria Dafunchio Confines de las Psicosis para esta elaboração.

Para pensar as psicoses, nos valemos de dois paradigmas, o paradigma de Schreber e paradigma de Joyce.

Neste caso, utilizaremos o paradigma de Joyce, ou seja, uma amarração não borromeana entre os três registros R, I, S.  Um paradigma que propõe a generalização da foraclusão, onde a clínica diferencial entre as psicoses (paranoica, esquizofrênica, parafrênica, maníaca, melancólica etc.) está referida a solução que encontra o sujeito para amarração e reparação dos lapsus no nó dos três registros R S I.

Essas reparações do lapso no nó nos fornecem a possibilidade de pensar distintas amarrações possíveis nas psicoses

O nó, borromeano ou não, vai sendo construído e reparado nos vários momentos da vida do sujeito, ele não acontece de um momento para o outro, e sim através de vários enlaçamentos do real, do simbólico e do imaginário na vida do sujeito, que, nesse movimento, produzem a trança da subjetividade.

Voltando ao caso clínico, qual seriam os lapsus que se produziram no nó e qual dos registros se soltou?

Nossa hipótese é que o registro do imaginário se soltou, enquanto que os registros do Real e Simbólico permanecem enganchados.

O esquecimento e o vagar sem sentido, sem rumo e sem memória, poderiam dar conta do momento em que esse registro se solta e o sujeito não conta com nenhuma solução (suplência). A manobra precária que ela utiliza para reparar o lapsus parece ser o andar sem rumo, que na situação em que o registro imaginário se solta completamente, não produz o mesmo efeito.

Essa maneira de pensar a clínica fornece uma indicação preciosa para o trabalho: se o sujeito soltou o registro imaginário não podemos entrar pelo registro faltante. Nesse caso, devemos nos abster de fazer intervenções pelo lado do sentido, da consistência, etc. É necessário recorrer aos demais registros – por exemplo, nesse caso, poderíamos recorrer ao simbólico pelo lado da escrita da letra etc.

Resta investigar quais foram as amarrações que repararam os lapsus desse sujeito no decorrer de sua vida e por qual motivo elas se soltaram. Em outras palavras, quais foram as suplências, ainda que frágeis e precárias, que sustentaram esse sujeito durante grande parte de sua vida?